«Entre as tradições populares portuguesas encontra-se a prática das Janeiras, uma tradição ancestral que consiste em cantar as boas festas, habitualmente, entre o Natal e o Dia de Reis, desejando votos de prosperidade para o Ano Novo. Estes cantos eram feitos de porta a porta por grupos de pessoas (em épocas remotas, à porta dos mais abastados).
São vagos os estudos sobre a origem das Janeiras. Uma abordagem através da história oral permite concluir que, no seio popular, o Cantar as Janeiras é tomado como sinónimo de Cantar os Reis. No entanto, sabe-se que a tradição das Janeiras deriva de costumes pagãos, tal como outras tradições cristãs: os romanos comemoravam a entrada no novo ano em nome de Janus, o porteiro celestial, deus do passado e do futuro, que fechava a porta do ano que findava e abria a porta do que se iniciava. Janus terá dado origem à denominação do primeiro mês do ano, janeiro, que se inicia depois do solstício de inverno. Por conseguinte, a tradição de Cantar as Janeiras está associada a este costume dos romanos.
O Cantar os Reis é, por sua vez, uma tradição cristã que corresponde ao epílogo da quadra festiva de Natal. Os Reis, segundo a Bíblia, correspondem aos três magos, Baltazar, Belchior e Gaspar que vieram dar as boas vindas ao Messias, que nasceu pouco depois do solstício de inverno, ofertando-o com incenso, ouro e mirra. Por conseguinte, esta é uma tradição que pretende evocar a adoração ao menino Jesus.
Pelas analogias da intenção da cada uma destas práticas, a tradição popular, ao longo do tempo, incutiu-lhes uma certa simbiose, fundindo-as num só propósito."
Natal dos Simples | Zeca Afonso
Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras
Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas
Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte
Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra
Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza
Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura