As clarissas analisadas, do século XV ao século XVII, "tinham muito mais cáries do que o resto da população"
As
clarissas do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, do século XV ao século
XVII, apresentavam mais cáries do que o resto da população, sendo que
esse registo pode estar relacionado com os doces conventuais, aponta uma
investigadora da Universidade de Coimbra.No âmbito das escavações do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, 30 dos 35 indivíduos exumados com dentes tinham cáries, havendo várias clarissas com "dentição multicariada" e 16 cáries presentes "num só indivíduo", disse à agência Lusa a coordenadora da equipa de antropologia que participou nas escavações em 1995 e 1996, Eugénia Cunha, que apresenta na quinta-feira uma palestra em torno das histórias por detrás dos restos mortais das 68 clarissas e três crianças encontradas.
As clarissas analisadas, do século XV ao século XVII, "tinham muito mais cáries do que o resto da população", sublinha Eugénia Cunha. Constatação que pode ser explicada pela "dieta" seguida, nomeadamente pelos doces conventuais, mas também pela forma como provavam a comida, podendo "deixar na boca, para provar, e ficava a fermentar".
A patologia oral das clarissas é marcada por "doenças muito severas", apresentando "tártaro, abcessos, cáries e doença periodontal [doença infecto-inflamatória]", explanou Eugénia Cunha.
Para além da patologia oral, a equipa registou alguns casos de osteoporose e osteoartrose, bem como um possível caso de brucelose.
De acordo com a antropóloga, lesões encontradas nos joelhos de algumas das clarissas podem também estar relacionadas com o facto de poderem passar muito tempo ajoelhadas a rezar.
A equipa constatou ainda que metade das clarissas tinha mais de 50 anos, "uma idade algo elevada para a época em questão", constata Eugénia Cunha.
Vinte anos depois das escavações, Eugénia Cunha e Francisco Curate revisitaram os ossos para falarem na quinta-feira, no auditório do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, pelas 18:00, sobre as histórias que contam os restos mortais das 68 clarissas e três crianças exumadas.
De acordo com a antropóloga, os restos mortais poderão ser objeto de novos estudos "à luz da tecnologia de agora", sendo a patologia oral das clarissas um dos potenciais temas a abordar.