janeiro 31, 2016

OS AMANTES SEM DINHEIRO



OS AMANTES SEM DINHEIRO (1950), in POESIA -EUGÉNIO DE ANDRADE (Modo de Ler, 2011)


Tinham o rosto aberto a quem passava
Tinham lendas e mitos
E frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
De mãos dadas com a água
E um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
O milagre de cada dia
Escorrendo pelos telhados,
E olhos de oiro
Onde ardiam
Os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
E silêncio
À roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
Um pássaro nascia dos seus dedos
E deslumbrado penetrava nos espaços.