janeiro 31, 2016

Faz hoje 27 anos...

A 31 de Janeiro de 1989 morria o médico e escritor Fernando Namora.
Fernando Namora nasceu em Condeixa (distrito de Coimbra), em 1919. Formou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra. Durante anos, dividiu o seu tempo entre a clínica e a actividade literária, em Lisboa. Até que passou a dedicar-se integralmente à elaboração de sua obra, principiada em 1938, com os poemas de Relevos e o romance As Sete Partidas do Mundo, obras de adolescente ainda incerto perante as seduções do Presencismo agonizante e as novidades neo-realistas.
Tem cultivado a poesia (Relevos, 1938; Mar de Sargaços, 1940; Terra, 1940; As Frias Madrugadas, 1959; Marketing, 1969), o romance (As Sete Partidas do Mundo, 1938; Fogo na Noite Escura, 1943; Casa da Malta, 1945; Minas de San Francisco, 1946; A Noite e a Madrugada, 1950; O Trigo e o joio, 1954; O Homem Disfarçado, 1957; Domingo à Tarde, 1961), o conto (Retalhos da Vida de um Médico, duas séries, 1949 e 1963; Cidade Solitária, 1959), a biografia (Deuses e Demónios da Medicina, 1952), a Crónica romanceada (Diálogo em Setembro, 1966) e "cadernos de um escritor" (Um Sino na Montanha, 1968; Os Adoradores do Sol, 1971).
Na trajectória de Fernando Namora há que considerar três fases, a primeira das quais caracterizada pelo realismo psicológico, espécie de fusão entre a influência presencista e a tendência neo-realista, que se documenta nas obras iniciais e em Fogo na Noite Escura. Na fase seguinte, encetada com Casa da Malta, o realismo psicológico cede lugar a um realismo de tónica predominantemente social: a mudança obedecia à disposição de Fernando Namora para a análise dos dramas sociais. Tal propensão, estimulada pelo cânon de arte preconizado pelos neo-realistas, ainda se desenvolvia graças à profissão de médico, que permitia ao escritor conviver com as classes desfavorecidas de vários lugares da província, e, assim, enriquecer-se de uma grande experiência da vida, que transferia quase ao natural para seus romances e contos. Entretanto, não tendo outra preocupação que fixar situações dramáticas e trágicas de gente simples e sofredora, Fernando Namora dirigia-se para uma forma atenuada de realismo, muito mais interessado no que vai nas consciências do que no corriqueiro atrito social.
De tal forma que, com O Homem Disfarçado e Domingo à Tarde, o escritor semelha voltar ao realismo psicológico, agora sem aderências presencistas, e desenvolvido, subtilizado pela experiência adquirida e por uma capacidade Maior de penetrar a intimidade mental das personagens: dir-se-ia que o psicologismo converte-se em introspectivismo. Afinal de contas, este período e o anterior constituem as duas faces da mesma moeda.
Ao longo dessa evolução, nota-se que o estilo de Fernando Namora se torna cada vez mais descarnado e económico, ajustado ao intuito de insinuar e surpreender o para-além das aparências.
E colabora eficazmente para equacionar a linha ascendente do escritor: embora as obras anteriores a O Homem Disfarçado ostentem específica valia, é com esse romance que alcança o ápice de sua trajectória até o presente momento, suficientemente alto para situar-se na primeira plana entre os modernos prosadores portugueses