janeiro 27, 2016

SOLIDÃO de Miguel Torga

SOLIDÃO

Não aprendo a lição,
A vida bem me ensina
Mas a minha atenção
Perde-se em cada esquina
Do caminho.
Adivinho
O que sei.
E nunca sei senão que me enganei
E que vou mais sozinho.

Por isso canto a dar sinal de mim
E a exorcizar o medo.
Este medo
Em segredo
Que me atormenta.
Medo animal,
Primordial,
Carnal,
Que quanto mais avanço mais aumenta.

Miguel Torga

(Coimbra, 22 de Janeiro de 1979.)
Diário XIII

Fotografia: José Malhoa (1855-1933) -Outono, 1918.