fevereiro 16, 2016

Poema de SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in O NOME DAS COISAS (Moraes Ed., 1ª ed., 1977), in OBRA POÉTICA (Caminho, 2010; Assírio & Alvim, 2015)

POR DELICADEZA

Bailarina fui
Mas nunca dancei
Em frente das grades
Só três passos dei

Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dancei no avesso
Do tempo bailado
Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei
Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado
Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei
Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:
«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»