Escritor
português, nasceu em Lisboa, em 1927 e morreu, também nesta cidade, em
1996. Licenciou-se em Filologia Românica em Lisboa, onde chegou a ser
professor catedrático, organizando e regendo, entre outras, a cadeira de
Teoria da Literatura. Foi secretário de Estado da Cultura, entre 1976 e
1979; diretor do diário A Capital;
diretor do Boletim Cultural do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e
Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1984 e 1996; diretor da
revista Colóquio/Letras;
presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1984-86) e
vice-Presidente da Association Internationale des Critiques Littéraires.
A sua obra reparte-se pela poesia; pela crítica literária, como Os Ócios do Ofício, Vinte Poetas Contemporâneos, Hospital das Letras ou Lâmpadas no Escuro (de Herculano a Torga);
pelo ensaio; pela tradução; pelo teatro; pelo romance; e também pelo
jornalismo. Embora os seus primeiros poemas datem de meados dos anos 40,
a sua atividade poética começou a ganhar relevo quando foi codiretor, a
par com António Manuel Couto Viana e Luís de Macedo, da revista Távola Redonda (1950-1954),
que, sem apresentar programa ou manifesto, se orientava para uma
alternativa poética à poesia social, baseada na "revalorização do
lirismo", exigindo ao poeta "autenticidade e um mínimo de consciência
técnica, a criação em liberdade e, também, a diligência e capacidade de
admirar, criticamente, os grandes poetas portugueses de gerações
anteriores a 1950. Sem reservas ideológicas ou preconceitos de ordem
estética" (VIANA, António Manuel Couto - "Breve Historial" in As Folhas Poesia Távola Redonda,
Boletim Cultural da F. C. G., VI série, n.º 11, outubro de 1988),
atributos a que acresciam como exigências a reação contra a "imediatez
da inspiração e contra o impuro aproveitamento da poesia para fins
sociais", através do equilíbrio "entre os motivos e a técnica, entre os
temas e as formas" (cf. MOURÃO-FERREIRA, David - "Notícia sobre a Távola
Redonda" in Estrada Larga 3, p. 392). Foi no primeiro volume da Coleção de Poesia das Edições "Távola Redonda" que publicou a sua primeira obra poética, A Secreta Viagem,
onde se encontram reunidos alguns dos traços que distinguiriam a sua
poética posterior, nomeadamente a preferência pela temática amorosa, o
rigor formal, a continuidade e renovação da lírica tradicional como, por
exemplo, a de inspiração camoniana, ou a abertura a experiências
poéticas estrangeiras. No poema "Dos Anos Quarenta", relembra leituras
nessa etapa de iniciação poética: Proust, Thomas Mann, Rilke,
Apollinaire, a "constelação pessoana", Álvaro de Campos, "E Régio
Miguéis Nemésio", bem como as circunstâncias que rodearam essa
descoberta, como o "despertar do deus Eros", a guerra, a queda dos
fascismos e a perseverança da ditadura salazarista.
Da sua obra poética, cuja poesia se distingue pelo lirismo culto, depurado e subtil, destacam-se os seguintes livros: A Secreta Viagem, Do Tempo ao Coração, Cancioneiro do Natal, Matura Idade e Ode à Música.
A obra de David Mourão-Ferreira foi
várias vezes reconhecida com prémios literários, como, por exemplo:
Prémio de Poesia Delfim Guimarães, 1954, paraTempestade de verão; Prémio Ricardo Malheiros, 1960, para Gaivotas em Terra; Prémio Nacional de Poesia, 1971, para Cancioneiro de Natal; Prémio da Crítica da Associação Internacional dos Críticos Literários para As Quatro Estações; e, para Um Amor Feliz ,
os prémios de Narrativa do Pen Clube Português, D. Dinis, de Ficção do
Município de Lisboa e o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação
Portuguesa de Escritores. Ao autor foi ainda atribuído, em 1996, o
Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.