fevereiro 11, 2016

Centenário do escritor que achava Pessoa um "humorista"


O escritor com estudantes


Está em curso a comemoração do centenário do nascimento de Vergílio Ferreira. Um polemista constante, que detestava Fernando Pessoa e pouco sucesso previa para a sua obra.
Na Biblioteca Vergílio Ferreira em Gouveia estão milhares de livros que pertenciam ao escritor. E com muitas histórias dentro deles, pois eram anotados a cada leitura que o autor fazia. O professor Jorge Costa Lopes, que há uns anos estuda exaustivamente as anotações de Vergílio Ferreira teve que fazer opções pois os temas de interesse nestas marginalias são abundantes, de tantos livros lidos e anotados: "A minha tese vai ser sobre as marginalias que dizem respeito a Fernando Pessoa, Clarice Lispector e Eduardo Lourenço". Se da escritora brasileira era um grande entusiasta, já nos livros do pensador, diz, "dá uma bicada aqui e ali ao amigo", mas é nos do poeta que as críticas são mais ferozes: "Vergílio Ferreira não dava o valor a Pessoa que nessa altura lhe estava a ser conferido e desconsiderava-o enquanto poeta." Percebe-se esta opinião através dos vários textos que escreveu, em que criticava Pessoa de ânimo leve e o achava infantil no que escrevia, tal como desvalorizava a existência dos heterónimos. "Polemista constante, nem sempre preparado", diz o investigador, "como se vê quando Vergílio Ferreira avança no campo da polémica literária relativamente ao livro de Adolfo Casais Monteiro sobre Fernando Pessoa, apontando aspetos demasiado negativos que depois teve de corrigir. Até porque Monteiro penalizou-o maltratando o texto inicial do escritor em que este considerava Fernando Pessoa apenas um humorista."
Se os romances de Vergílio Ferreira passam despercebidos na região, onde a papelaria/livraria deixou de os ter após ficarem de fora das leituras obrigatórias na escola, o mesmo não aconteceu com o busto de Vergílio Ferreira, tanto assim que há uns anos houve um atentado ao património e a cabeça de bronze da homenagem ao escritor desapareceu de cima dos seus ombros. Não foi a sua memória a única vítima do vandalismo do ladrão, que quis lucrar com o metal da estátua, pois uma outra cabeça, do benemérito republicano Pedro Boto Machado, também desapareceu na mesma noite do pedestal em que se encontrava. Ora, nada melhor do que a celebração do centenário do nascimento do autor para repor o busto em falta, e nesta semana os trabalhos no jardim da praça central, mesmo em frente à Biblioteca Vergílio Ferreira, eram em função da nova estátua. Que foi inaugurada na sexta-feira, um dia após o inicio da longa lista de eventos para comemorar um século de existência do escritor, que popularizou a região entre os muitos leitores que teve durante a produção literária.