Está
em curso a comemoração do centenário do nascimento de Vergílio Ferreira.
Um polemista constante, que detestava Fernando Pessoa e pouco sucesso
previa para a sua obra.
Na Biblioteca Vergílio Ferreira em
Gouveia estão milhares de livros que pertenciam ao escritor. E com
muitas histórias dentro deles, pois eram anotados a cada leitura que o
autor fazia. O professor Jorge Costa Lopes, que há uns anos estuda
exaustivamente as anotações de Vergílio Ferreira teve que fazer opções
pois os temas de interesse nestas marginalias são abundantes, de tantos
livros lidos e anotados: "A minha tese vai ser sobre as marginalias que
dizem respeito a Fernando Pessoa, Clarice Lispector e Eduardo Lourenço".
Se da escritora brasileira era um grande entusiasta, já nos livros do
pensador, diz, "dá uma bicada aqui e ali ao amigo", mas é nos do poeta
que as críticas são mais ferozes: "Vergílio Ferreira não dava o valor a
Pessoa que nessa altura lhe estava a ser conferido e desconsiderava-o
enquanto poeta." Percebe-se esta opinião através dos vários textos que
escreveu, em que criticava Pessoa de ânimo leve e o achava infantil no
que escrevia, tal como desvalorizava a existência dos heterónimos.
"Polemista constante, nem sempre preparado", diz o investigador, "como
se vê quando Vergílio Ferreira avança no campo da polémica literária
relativamente ao livro de Adolfo Casais Monteiro sobre Fernando Pessoa,
apontando aspetos demasiado negativos que depois teve de corrigir. Até
porque Monteiro penalizou-o maltratando o texto inicial do escritor em
que este considerava Fernando Pessoa apenas um humorista."Se os romances de Vergílio Ferreira passam despercebidos na região, onde a papelaria/livraria deixou de os ter após ficarem de fora das leituras obrigatórias na escola, o mesmo não aconteceu com o busto de Vergílio Ferreira, tanto assim que há uns anos houve um atentado ao património e a cabeça de bronze da homenagem ao escritor desapareceu de cima dos seus ombros. Não foi a sua memória a única vítima do vandalismo do ladrão, que quis lucrar com o metal da estátua, pois uma outra cabeça, do benemérito republicano Pedro Boto Machado, também desapareceu na mesma noite do pedestal em que se encontrava. Ora, nada melhor do que a celebração do centenário do nascimento do autor para repor o busto em falta, e nesta semana os trabalhos no jardim da praça central, mesmo em frente à Biblioteca Vergílio Ferreira, eram em função da nova estátua. Que foi inaugurada na sexta-feira, um dia após o inicio da longa lista de eventos para comemorar um século de existência do escritor, que popularizou a região entre os muitos leitores que teve durante a produção literária.