Ofélia Queiroz, a única namorada conhecida de Fernando Pessoa, vai ser evocada no domingo, Dia dos Namorados, no Cemitério dos Prazeres, com uma leitura de cartas trocadas entre ambos, numa iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa (CML).
Os restos mortais de Ofélia, que morreu em 1991, e que se encontrava sepultada no Alto de São João, foram esta semana trasladados para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde decorrerá domingo, às 14h00, uma cerimónia oficial, segundo a autarquia.No local, com a presença de vários responsáveis da CML, e do professor Eduardo Lourenço, vão ser lidas cartas trocadas por Ofélia e Pessoa, pelos atores Inês de Medeiros e Pedro Górgia.
"Será um momento de evocação de Ofélia como namorada de Fernando Pessoa", disse à agência Lusa José Manuel dos Santos, diretor cultural da Fundação EDP, responsável pela escolha das frases do escritor e da sua amada que foram colocadas na lápide de Ofélia.
"Ela terá sido a única namorada de Pessoa, mas é difícil dizer se o terá sido no sentido romântico ou erótico. Sabe-se que tinha por ela grande ternura, mas os seus grandes amores foram a mãe e o pensamento", sustentou José Manuel dos Santos.
Na lápide foram inscritas as frases, retiradas de cartas: "Gosto muito, mesmo muito da Ofelinha. Aprecio muito, muitíssimo, a sua índole e o seu caráter. Se casar não casarei senão consigo", ao que ela respondeu, "Agradeço muito os teus beijos e envio-te muitíssimos e muitos chi-corações apertados. Da tua, sempre mesmo muito tua, Ofélia".
Para José Manuel dos Santos, esta relação entre ambos "terá sido, como já disse Eduardo Lourenço, mais uma ficção de Pessoa sobre a sua própria vida".
"Com as limitações da época e da sua condição, Ofélia revelou uma grande inteligência e sabedoria na forma como conseguiu lidar com Fernando Pessoa", comentou, ressalvando que, pese embora a grande ternura que o escritor tinha por esta mulher, a obra dele não lhe permitia dedicar-se-lhe totalmente.
Por isso mesmo, ele escreveu: "Querem-me casado, fútil, quotidiano e tributável?", uma ideia que revela "o que verdadeiramente pensava do casamento e do desinteresse por esse lado da vida", sustenta José Manuel dos Santos.
O diretor cultural da Fundação EDP recordou que Pessoa chegou a estar sepultado no cemitério dos Prazeres durante 50 anos, antes de ser trasladado, em 1985, para o Mosteiro dos Jerónimos, "mas ainda há muitos turistas o procuram lá", onde agora se encontra Ofélia.
Apontou ainda que a CML está a pensar criar, no âmbito de roteiros sobre cemitérios em Lisboa, um circuito pessoano, pois nos Prazeres estão sepultados vários membros da família do escritor, nascido em 1888 e falecido em 1935.
A evocação de Ofélia, segundo a autarquia, vai contar ainda com a presença do vice-presidente da CML, Duarte Cordeiro, da vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, e da autora do livro 'Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz', Manuela Pereira.