MIGUEL TORGA, in DIÁRIO VII (1956), in ANTOLOGIA POÉTICA (Coimbra, 4ª ed., 1994)
 POEMA MELANCÓLICO A NÃO SEI QUE MULHER
 Dei-te os dias, as horas e os minutos
 Destes anos de vida que passaram;
 Nos meus versos ficaram
 Imagens que são máscaras anónimas
 Do teu rosto proibido;
 A fome insatisfeita que senti
 Era de ti,
 Fome do instinto que não foi ouvido.
 Agora retrocedo, leio os versos,
 Conto as desilusões no rol do coração,
 Recordo o pesadelo dos desejos,
 Olho o deserto humano desolado,
 E pergunto porquê, por que razão
 Nas dunas do teu peito o vento passa
 Sem tropeçar na graça
 Do mais leve sinal da minha mão...
