CANTO TARDIO
Antes que o Inverno chegue
volto a ser cigarra. Canto.
Da laboriosa agonia me liberto e exalto.
Canto sem cegar o tempo
temendo e saboreando o tempo,
galo da aurora
que não tem tempo de acordar dormindo.
De celeiro vazio, canto,
surdo aos lobos e aos ratos
que esgadanham o restolho.
Canto no Outono, que é oiro velho
e um rosto rugoso e macio.
Canto só porque é tarde para o canto
e a cantar adio o que tarde veio.
Cantando abro-me às formigas
e ofereço-lhes o indegesto banquete
para que a morrer cantando
me devorem vivo.
Antes que o Inverno chegue
volto a ser cigarra. Canto.
Da laboriosa agonia me liberto e exalto.
Canto sem cegar o tempo
temendo e saboreando o tempo,
galo da aurora
que não tem tempo de acordar dormindo.
De celeiro vazio, canto,
surdo aos lobos e aos ratos
que esgadanham o restolho.
Canto no Outono, que é oiro velho
e um rosto rugoso e macio.
Canto só porque é tarde para o canto
e a cantar adio o que tarde veio.
Cantando abro-me às formigas
e ofereço-lhes o indegesto banquete
para que a morrer cantando
me devorem vivo.
Fernando Namora, in Marketing