março 14, 2016

Com a assinatura de António Galopim de Carvalho


 
 
 
 
 
 
 
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GEOLOGIA DO VINHO
O vinho não tem Geologia mas, entre outros aspectos não menos importantes (castas, clima, topografia e outros que desconheço), tem uma relação muito estreita com a ciência que estuda as rochas, em especial no que diz respeito à sua natureza (granitos, basaltos, xistos, calcários e outras).
Sempre que a capa superficial das rochas expostas aos agentes externos definidores do clina, nomeadamente, a humidade e a temperatura, atinge um certo grau de apodrecimento (alteração ou meteorização) susceptível de permitir a ocupação vegetal e com ela todo um cortejo de seres vivos e de matéria orgânica, passa a ser considerada como solo. O solo é, pois, uma dada espessura (de escassos centímetros a vários metros) de material solto, móvel, na interface da rocha sã (rocha-mãe) com o meio exterior de que fazem parte o ar, os vegetais e alguns animais (minhocas, insectos e outros).
Em linguagem corrente, solo é sinónimo de terra. Fala-se de terra arável, cavar a terra, estrumar a terra, etc.
Dos solos mais incipientes e pobres, ditos esqueléticos, aos mais evoluídos e ricos de matéria orgânica, todos existem porque há rochas aflorantes à superfície da Terra e porque há a sua meteorização menos ou mais acentuada.
Há , pois, uma relação muito estreita entre o vinho e as rochas através do solo. Solo que depende do clima. Clima que, por seu turno, varia com a latitude, a altitude, a interioridade e, ainda e muito, com a orientação face à incidência da radiação solar, no caso das vertentes, como as do Alto Douro. Não obstante a pequena dimensão do País, há variações sensíveis no clima de norte a sul. Por exemplo, ao clima atlântico e húmido no Minho, o berço do tradicional vinho verde, opõe-se a relativa secura do Alentejo oriental que produz os conhecidos vinhos da Granja (Amareleja).

Em Portugal, em termos muito gerais e no que toca a diversidade litológica, podemos distinguir, em especial, granitos, xistos, calcários, mármores, basaltos, terrenos arenosos e aluviões. E, em função desta geologia, temos no nosso país:
- solos não evoluídos ou esqueléticos praticamente reduzidos à capa de alteração de rochas consolidadas como granitos e xistos;
- solos arenosos consolidados ou não;
- solos pouco evoluídos derivados de calcários diversos;
- solos evoluídos derivados de rochas-mãe calcárias (terra rossa), de cores avermelhadas ou amareladas, de que temos bons exemplos em associação com os mármores de Vila Viçosa – Estremoz – Borba;
- solos evoluídos, muito argilosos como são, entre outros, os barros pretos de Beja, derivados de gabros e dioritos, tradicionalmente conhecidos como campos de trigo;
- solos de aluvião, no geral areno-argilosos e ricos de matéria orgânica.
EXEMPLOS:
Vinhos da Bairrada – em solos areno argilosos.
Vinhos de Borba – em solos evoluídos derivados de rochas-mãe calcárias (terra rossa), de cores avermelhadas.
Vinhos de Bucelas – em solos derivados de margas e calcários.
Vinhos de Carcavelos - em solo esquelético sobre calcário.
Vinhos do Cartaxo – em solos aluviais.
Vinhos de Colares – em solos de areia.
Vinhos do Dão - em solos não evoluídos ou esqueléticos, praticamente reduzidos à capa de alteração do granito.
Vinhos de Estremoz – em solos evoluídos derivados de rochas-mãe calcárias (terra rossa), de cores avermelhadas
Vinhos de Évora - em solos não evoluídos ou esqueléticos praticamente reduzidos à capa de alteração do granito.
Vinhos da Graciosa (Açores) - em solos sobre basalto.
Vinhos de Lagoa – em solos areno-calcários.
Vinhos da Madeira – em solos sobre basalto.
Vinhos do Pico (Açores) - em solos sobre basalto.
Vinhos de Portalegre - em solos não evoluídos ou esqueléticos praticamente reduzidos à capa de alteração do granito.
Vinhos do Porto - em solos não evoluídos ou esqueléticos, praticamente reduzidos à capa de alteração de xistos nas vertentes do Alto Douro.
Vinhos do Redondo - em solos não evoluídos ou esqueléticos, praticamente reduzidos à capa de alteração do granito.
Vinhos de Reguengos - em solos não evoluídos ou esqueléticos, praticamente reduzidos à capa de alteração do granito.
Moscatel de Setúbal – em solo de areia.
Vinhos do Vale do Sado - em solos aluviais.
Vinhos da Vidigueira – maioritariamente em solos não evoluídos ou esqueléticos praticamente reduzidos à capa de alteração de xistos.
Vinhos Verdes – em solos medianamente evoluídos sobre rochas graníticas.