SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in MAR NOVO (Guimarães Editores, 1958) in OBRA POÉTICA (Caminho, 2010)
CAIS
Para um nocturno mar partem navios,
Para um nocturno mar intenso e azul
Como um coração de medusa
Como um interior de anémona.
Naturalmente
Simplesmente
Sem destruição e sem poemas,
Para um nocturno mar roxo de peixes
Sem destruição e sem poemas
Assombrados por miríades de luzes
Para um nocturno mar vão os navios.
Vão
O seu rouco grito é de quem fica
No cais dividido e mutilado
E destruído entre poemas pasma.
Fotografia: Blue Blue Boat, de Mal Bray