FERNANDO PESSOA, in CARTAS DE FERNANDO PESSOA A ARMANDO CÔRTES-RODRIGUES (Confluência, 1944; Livros Horizonte, 1983)
COMO A NOITE É LONGA!
Como a noite é longa!
Toda a noite é assim...
Senta-te, ama, perto
Do leito onde esperto.
Vem pr'ao pé de mim...
Amei tanta coisa...
Hoje nada existe.
Aqui ao pé da cama
Canta-me, minha ama,
Uma canção triste.
Era uma princesa
Que amou... Já não sei...
Como estou esquecido!
Canta-me ao ouvido
E adormecerei...
Que é feito de tudo?
Que fiz eu de mim?
Deixa-me dormir,
Dormir a sorrir
E seja isto o fim.
(4-11-1914)
Pintura: Insomnia, de Donna Pidlubny