"Para lá de se terem perdido tesouros culturais incalculáveis (bibliotecas, livrarias, arquivos, recheio de palácios, etc.), ruíram igrejas, hospitais, monumentos, quase uma cidade inteira, que precisou de ser refeita, renascendo das cinzas como a fénix. Impossível aqui fazer o inventário de tudo o que 1755 levou consigo. Antes de mais a Rua Nova, com todo o seu esplendor e movimento. E o Paço da Ribeira, que nunca mais voltou a ser reconstruído, guardando-lhe o Terreiro apenas a memória, memória forte havemos de convir, já que nunca vingou a designação de «Praça do Comércio» desejada por Pombal. Com o terramoto caiu também o magnífico edifício da ópera, inaugurado sete meses antes, e o Hospital de Todos-os-Santos, no Rossio, com os seus 25 arcos ogivais de pedraria e o templo de arquitectura manuelina. Debaixo dos arcos ficava a ermida da Senhora do Amparo (no local onde é hoje a rua do mesmo nome) e do lado oposto (na actual Rua da Betesga) a roda dos enjeitados. Tudo desapareceu sem deixar rasto. Quase totalmente destruído ficou o Paço dos Estaos, onde funcionava a Inquisição (e que é hoje o Teatro Nacional), e o Convento de S. Domingos, também no Rossio. Em ruínas ficou o Convento do Carmo, o de S. Francisco, o de Santa Clara, o da Trindade, o da Boa-Hora e tantos outros. O incêndio levou nas chamas a Casa dos Vinte e Quatro, no Rossio, a Alfândega do Tabaco, as cadeias do Tronco e do Aljube, e um rol de igrejas impossível de nomear mas que se estima em mais de cem. No Bairro Alto, nenhuma rua foi poupada. Embora nunca se tenha podido fazer estatísticas rigorosas, o ter-ramoto deve ter feito mais de 10 000 mortes numa população de cerca de 250 000 habitantes"
Alice Vieira, Esta Lisboa, 1993
Gravuras Arquivo Municipal de Lisboa