novembro 17, 2015

7 de Novembro de 1717: É colocada a primeira pedra do Convento de Mafra


Obra central do reinado de D. João V, o Palácio-Convento de Mafra é um projeto colossal do Barroco português setecentista. Os seus números são impressionantes, como o testemunha a sua imensa área de aproximadamente 40 000 m2, a sua fachada nobre com 232 metros, os seus 29 pátios e 880 salas e quartos, as suas 4500 portas e janelas ou ainda as 217 toneladas que pesam os 110 sinos do seu famoso carrilhão.
A fundação deste mosteiro de frades arrábidos deveu-se a uma promessa feita por D. João V, caso a rainha fosse bem sucedida na conceção de um filho que tardava. Este promessa cumpriu-se em 1711, ano em que nasceu a princesa Maria Bárbara, a primogénita da descendência do Magnânimo. O projeto inicial estava dimensionado para acolher treze frades arrábidos, mas no final da construção albergou mais de 300. Com efeito, o número de frades e a dimensão do empreendimento sofreram um grande incremento.
No entanto, o projeto de Mafra se iniciou a 17 de novembro de 1717, realizando-se a sua sagração em 1730. As obras prosseguiram até 1737, altura em que o convento mafrense se encontrava praticamente concluído. Acrescentos posteriores vieram enriquecê-lo com obras de arte e a criação de outras dependências, como foi o caso da notável biblioteca conventual. Os planos de Mafra são entregues a João Frederico Ludovice, arquiteto-ourives alemão e que se formou no atelier romano de Carlo Fontana.Mafra ordena-se em torno de dois retângulos articulados: o principal integra-se na vila e compreende a igreja, o palácio, dois claustros, o refeitório e outras dependências. O secundário está virado para a Tapada e articula as celas conventuais, as oficinas e a Casa da Livraria.
A frontaria é marcada pela dicotomia entre palácio e igreja, convergindo as duas alas na axial Sala das Bênçãos. A igreja ergue-se no centro da fachada, delimitada por duas altas e esbeltas torres sineiras de cobertura bolbosa e linhas sinuosas. O seu acesso é feito por imponente escadaria e por diversas rampas. A fachada do templo dispõe-se em dois majestosos andares, coroados por poderoso frontão triangular. O andar térreo afirma uma galilé de três portais, enquanto o piso superior é marcado por diversas janelas de frontão curvo e triangular. Estas aberturas são ladeadas por estátuas inseridas em nichos, ritmadas por altas colunas jónicas em mármore branco. A estatuária da entrada foi realizada por artistas italianos setecentistas, dos quais se podem destacar Monaldi, Baratta e Battista Maini.
Para cada um dos lados da igreja estendem-se os corpos retangulares e tripartidos do palácio, terminando nos ângulos por dois torreões de cobertura bolbosa, inspirados na antiga Casa da Índia do Terreiro do Paço lisboeta, destruída no terramoto de 1755.O interior da igreja é grandioso e equilibrado, dividido em três naves e seis capelas laterais comunicantes, com transepto bem saliente. Harmoniosamente decorada, nela se pode observar um jogo colorido de mármores italianos e portugueses, em articulação com a pedra do monumento.
As pinturas dos altares deterioraram-se em meados do século XVIII, sendo substituídas por composições marmóreas relevadas, obra de escultores italianos dirigidos por Alessandro Giusti. Este escultor romano introduziu a gramática decorativa rocaille e deixou uma operosa escola de discípulos portugueses, entre os quais se destacam os escultores Joaquim Machado de Castro e José de Almeida.A igreja é bem iluminada, sendo magistral a cúpula que se ergue no cruzeiro do transepto. Elevado pelo alto tambor, o zimbório forma uma cúpula perfeita rasgada por amplas janelas. Também a capela-mor e as colaterais são profusamente iluminadas, realçando o encanto dos seus mármores policromos. De grandes dimensões, o altar-mor apresenta uma enorme tela pintada, encimada por um Cristo crucificado.
No topo da entrada situa-se a galeria real, local onde a família real assistia ao ofício divino e onde se situam as três janelas da Sala da Bênção.
O cenóbio possui diversas dependências que integram o museu do Palácio Nacional de Mafra, enquanto outras foram reconvertidas para acolherem a Escola Prática de Infantaria. Nestas áreas destacam-se algumas dependências pela sua qualidade artística.
Na ala sul, a Casa do Capítulo, verdadeira joia da arquitetura barroca, é uma sala elíptica, de cantaria branca, azul e vermelha, e teto apainelado. Curiosa e surpreendente é toda a área conventual, memória da vivência monástica da comunidade dos ascetas frades arrábidos.
Entre as inúmeras dependências, o realce vai para a Casa da Livraria, obra de excecional qualidade executada por Manuel Caetano de Sousa entre 1771 e 1794. Equilíbrio, monumentalidade e clareza são alguns dos atributos desta imensa biblioteca rocaille, reunindo nos seus dois andares de estantes alguns dos mais notáveis livros impressos - fundo bibliográfico que conta com cerca de 40 000 exemplares
Fontes:
Palácio-Convento de Mafra. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. 

Ficheiro:John V of Portugal Pompeo Batoni.jpg
Retrato de D. João V- Pompeo Batoni
Ficheiro:Palácio Nacional de Mafra (1853).jpg
Palácio Nacional de Mafra - Litografia de 1853

O projecto original de Joham Friedrich Ludwig previa apenas espaço para treze frades, passando mais tarde, por exigência do rei, a ter capacidade para trezentos frades, a família real, o patriarcado e a corte. O mármore, para a sua construção, veio das pedreiras de Pêro Pinheiro e Sintra, e as madeiras do Brasil
Só o lançamento da primeira pedra, em 1717, custou cerca de quarenta mil libras. Na construção chegaram a trabalhar, simultaneamente, quarenta e cinco mil operários, guardados por sete mil soldados, para não fugirem. Os relógios, o carrilhão e os sinos,  vieram de Liège. Até a madeira de pinho para os andaimes e barracas dos trabalhadores veio do norte da Europa. A maior parte das estátuas e a pintura foram obra de artistas italianos; paramentos, alfaias de culto, tocheiros foram encomendados em Roma, Veneza, Milão, Génova e, também, em França e Holanda. Só mesmo o mármore é genuinamente português.
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