ANTÓNIO NOBRE, in SÓ (Ed. Verbo, 2005)
 MENINO E MOÇO
 Tombou da haste a flor da minha infância alada.
 Murchou na jarra de oito o pudico jasmim:
 Voou aos altos Céus a pomba enamorada
 Que dantes estendia as asas sobre mim.
 Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada,
 E que era sempre dia, e nunca tinha fim
 Essa visão de luar que vivia encantada,
 Num castelo de prata embutido a marffim!
 Mas, hoje, as pombas de oiro, aves da minha infância,
 Que me enchiam de Lua o coração, outrora,
 Partiram e no Céu evolam-se, a distância!
 Debalde clamo e choro, erguendo aos Céus meus ais:
 Voltam na asa do Vento os ais que a alma chora,
 Elas, porém, Senhor! Elas não voltam mais...
 (1885)
