janeiro 10, 2015

MENINO E MOÇO de ANTÓNIO NOBRE


ANTÓNIO NOBRE, in SÓ (Ed. Verbo, 2005)

MENINO E MOÇO

Tombou da haste a flor da minha infância alada.
Murchou na jarra de oito o pudico jasmim:
Voou aos altos Céus a pomba enamorada
Que dantes estendia as asas sobre mim.

Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada,
E que era sempre dia, e nunca tinha fim
Essa visão de luar que vivia encantada,
Num castelo de prata embutido a marffim!
Mas, hoje, as pombas de oiro, aves da minha infância,
Que me enchiam de Lua o coração, outrora,
Partiram e no Céu evolam-se, a distância!
Debalde clamo e choro, erguendo aos Céus meus ais:
Voltam na asa do Vento os ais que a alma chora,
Elas, porém, Senhor! Elas não voltam mais...

(1885)