maio 28, 2013

Poema de Miguel Torga

AR LIVRE

Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
... Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!

Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Antes o caos que a morte…
De par em par, pois então?!

Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
-E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)

Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre como se tem
Fora do ventre da mãe,
Desligado do cordão!

Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!

Miguel Torga.
Cântico do Homem. Poesias. (1950)


«AR LIVRE

Ar livre, que não respiro! 
Ou são pela asfixia? 
Miséria de cobardia 
Que não arromba a janela 
Da sala onde a fantasia 
Estiola e fica amarela! 

Ar livre, digo-vos eu! 
Ou estamos nalgum museu 
De manequins de cartão? 
Antes o caos que a morte… 
De par em par, pois então?! 

Ar livre! Correntes de ar 
Por toda a casa empestada! 
(Vendavais na terra inteira, 
A própria dor arejada, 
-E nós nesta borralheira 
De estufa calafetada!) 

Ar livre! Que ninguém canta 
Com a corda na garganta, 
Tolhido da inspiração! 
Ar livre como se tem 
Fora do ventre da mãe, 
Desligado do cordão! 

Ar livre, sem restrições! 
Ou há pulmões 
Ou não há! 
Fechem as outras riquezas, 
Mas tenham fartas as mesas 
Do ar que a vida nos dá!

Miguel Torga. 
Cântico do Homem. Poesias. (1950)»