PÂNICO
 Que chave de negrura fecha o dia
 Que amanheceu aberto?
 Em que seco deserto
 Se transformou a veiga dos meus versos?
 Vida! Quero viver!
 Musa! Quero cantar!
 Ainda sinto o coração bater.
 Ainda sou capaz de me inspirar.
 Sei que o fim se aproxima, mas protesto
 Contra qualquer mortalha antecipada.
 Enquanto eu der a cada hora triste
 A graça da ilusão,
 Exijo o meu quinhão
 De plenitude.
 Poemas de uma nova floração
 Numa fértil segunda juventude.
 Diário XIII
Miguel Torga