Vive um momento com saudade dele
Já ao vivê-lo…
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos…
Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma coisa que nada já deseja…
Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda:
Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo,
E a morte não virá nem tarde ou cedo…
Porque o que importa é que já nada importe…
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou, ténue e longe, cale
Seus gestos… Tudo é o mesmo… Eis o momento…
Sejamo-lo… Para quê o pensamento?
Já ao vivê-lo…
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos…
Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma coisa que nada já deseja…
Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda:
Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo,
E a morte não virá nem tarde ou cedo…
Porque o que importa é que já nada importe…
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou, ténue e longe, cale
Seus gestos… Tudo é o mesmo… Eis o momento…
Sejamo-lo… Para quê o pensamento?
Fernando Pessoa (1914)