fevereiro 24, 2014

Uma entrevista a acompanhar sobre a Leitura das obras clássicas.....



Porque Ler os Clássicos
Porquê ler os clássicos da literatura portuguesa?
Os clássicos são o património literário nacional, parte importante da nossa identidade enquanto portugueses, uma espécie de monumentos nacionais em papel e tinta. Não os ler é como morrer sem ver os Jerónimos ou a Torre de Belém.

A definição de clássico está longe de ser consensual. Afinal, o que torna uma obra literária um clássico?
É difícil responder a essa pergunta, mas creio que aquilo que distingue um clássico da literatura é a sua resistência ao tempo, a capacidade que determinada obra tem de, independentemente do século em que foi escrita, poder ser lida sem ver as suas qualidades beliscadas.

Eça e Pessoa continuam a ser bastante lidos, mas nem todos tiveram tal sorte. Que autor português considera que foi imerecidamente votado ao esquecimento?
Muitos, embora alguns possam vir a ser recuperados porque, às vezes, há uma corrente vinda sabe-se lá de onde que ressuscita um autor aparentemente esquecido e o põe de novo na roda da fortuna dos leitores. Para dar apenas dois exemplos, gostaria muito que isso acontecesse a Carlos de Oliveira e Vitorino Nemésio.

«Prognósticos só no final do jogo», mas que obra contemporânea lhe parece capaz de vencer o teste do tempo e vir a integrar o cânone literário português?
Presumo que Viagem à Índia, de Gonçalo Tavares, até pela sua aproximação formal a outros grandes clássicos, como Os Lusíadas ou o Ulisses de Joyce, cabe nessa categoria.

A nossa herança literária é importante, mas por vezes a sua influência pesa em demasia na ficção contemporânea. Vivem os autores portugueses na sombra dos seus antecessores?
Julgo que não. Se olharmos para a poesia portuguesa depois de Pessoa, sabemos que, apesar do peso terrível que poderia ter caído sobre ela, o género se manteve sempre extremamente vivo. Na ficção, acontece exactamente o mesmo, há imensos autores jovens de grande qualidade a fazerem o seu caminho sem lhes detectarmos influências óbvias nem escreverem à sombra de ninguém. Um escritor que nada herda é um escritor geralmente pobre, com grandes dificuldades em granjear a atenção da academia e da crítica e mais ainda de se tornar um clássico. Mesmo o escrever contra qualquer coisa que veio antes revela o conhecimento da coisa, da herança.

Escritora portuguesa, Maria do Rosário Pedreira nasceu em 1959, em Lisboa. Fez os estudos superiores na Universidade Clássica de Lisboa, onde se licenciou, em 1981, em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Franceses e Ingleses. Fez ainda o curso de Língua e Cultura do Instituto de Cultura, em Portugal. Como bolseira do governo italiano, esteve em Perugia a frequentar um curso de Verão, na Universidade. Foi também aluna do «Goethe Institut».

A sua formação académica abriu-lhe as portas do ensino e da tradução.

Amante da actividade editorial, coordenou os serviços da Editora Gradiva, foi directora de publicações da Sociedade Portugal-Frankfurt/97 e editou os catálogos das exposições temáticas da Expo’98, entre outros. Em 1998, tornou-se editora da publicação Temas e Debates.

Iniciou a sua carreira literária em 1996, escrevendo o seu primeiro livro de poesia «A Casa e o Cheiro dos Livros», cuja edição se esgotou de imediato. Seis anos mais tarde, e após a edição de vários títulos em prosa, nomeadamente «Alguns Homens e Duas Mulheres e Eu» (romance) e outros de literatura infantil, Maria do Rosário Pedreira publica um novo livro de poemas «O Canto do Vento nos Ciprestes», cujo merecimento da crítica a vai confirmar entre a plêiade dos novos poetas.

Distinguida com alguns prémios literários, é detentora de uma obra diversificada, em prosa, poesia, ensaio e crónica, constituindo a literatura juvenil – grosso da sua ficção – um veículo de transmissão de valores humanos e culturais. As colecções juvenis «Detective Maravilhas» e «O Clube das Chaves» (esta em parceria com Maria Teresa M. González) entraram já no universo ficcional da adolescência portuguesa.