fevereiro 24, 2013

DAVID MOURÃO FERREIRA

TERNURA

Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada

Olho a roupa no chão que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio…

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

DAVID MOURÃO FERREIRA, in INFINITO PESSOAL OU A ARTE DE AMAR
(Guimarães Ed., 1963)
DAVID MOURÃO-FERREIRA, no dia em que completaria 86 anos.
Esta é apenas um breve apontamento sobre a vasta, rica e inigualável obra do Poeta.
LT e CC

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TERNURA  

Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada

Olho a roupa no chão que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio…

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

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DAVID MOURÃO FERREIRA, in INFINITO PESSOAL OU A ARTE DE AMAR, (Guimarães Ed., 1963)