janeiro 05, 2018

2018 é o Ano Europeu do Património. Um “alerta" e uma "chamada à participação"


Guilherme d’Oliveira Martins, comissário nacional do Ano Europeu do Património 2018, apela à mobilização. Não basta conhecer o património. É preciso vivê-lo e preservá-lo.
É preciso acabar com uma ideia “estática e passadista” do património, diz Guilherme d’Oliveira Martins. Em entrevista à Renascença, o coordenador nacional do Ano Europeu do Património, que se assinala em 2018, apela às escolas e sociedade civil para se envolverem no conhecimento da herança material e imaterial.

Às escolas pede-se que adoptem um monumento, está em preparação uma aplicação digital para ajudar. Às associações, o comissário pede que mobilizem a sociedade civil. A ordem é saber preservar o legado de séculos para o poder passar às futuras gerações.
Este Ano Europeu do Património vai obrigar a olhar para o património de uma forma abrangente. Não estamos a falar apenas de monumentos?
Essa é a preocupação fundamental que existiu quando a União Europeia decidiu este ano temático. O objectivo foi, primeiro, tirar da cabeça das pessoas uma ideia estática e passadista de património. O património é o património construído e não o podemos deixar ao abandono, mas é também o património imaterial, são as tradições, aspectos ligados à língua e vivência cultural, como o fado, o cante alentejano e, recentemente, as imagens de Estremoz.
A ideia é irmos também ao imaterial como as paisagens, cada vez mais importantes. E temos também a ligação à criação contemporânea. Os contemporâneos têm aqui um papel importante no equilibro entre aquilo que criam e aquilo que herdamos. Nada melhor para evocar a força e importância do património do que recordámos a parábola dos talentos. Aquele que enterrou o seu talento, perdeu-o. Se nós enterramos, esquecemos e formos indiferentes ao património, estaremos a perder e muito.
É importante este Ano Europeu do Património servir de alerta à sociedade civil para estimar o seu legado, a herança patrimonial?
Exactamente. É um ano de alerta e de chamada à participação. Pela primeira vez, há uma iniciativa em que há um portal europeu onde se fará o registo das iniciativas. Não há nenhuma escolha prévia. Caberá aos promotores e ao público fazer as melhores escolhas. Depois, há um cuidado muito especial com os bens que temos a nosso cargo. Diria que estamos perante a necessidade de um culto do património cultural. Significa que temos que enriquecer aquilo que recebemos, mas temos também de ter muito cuidado.