Qual  é  o  papel  do/a  cidadão/ã ou  o  que  é  o  exercício  da  cidadania  são  perguntas  que não deveríamos ter de colocar enquanto indivíduos e membros de uma comunidade. Contudo, a  surpresa  maior  será  o  porquê  da  necessidade  de  criação  de  uma  Estratégia  Nacional  de Educação para a Cidadania (ENEC), em pleno século XXI, pois se há um papel principal para a educação é, sem dúvida, o de formar para o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição de um país.
Mas,  de  facto,  confrontados  todos  os  dias  com  situações  inexplicáveis  e  imprevisíveis, que  nos  levam  a  concluir  que,  afinal,  em  termos  de  respeito  pelos  direitos  humanos  é prioritário que os direitos e deveres de cada indivíduo sejam praticados e exercidos na escola, todos  os  dias,  com  saberes  interligados  e  postos  em  prática,  para  que  cada  individuo  possa desenvolver  as  competências  pessoais  e  sociais  e  de  participação  ativa  na  sociedade, realizando também “aprendizagens” essenciais em áreas de educação não formal.
Foi com esse objetivo, e com base nas propostas apresentadas por um grupo de trabalho interministerial, que foi criada a ENEC, numa parceria entre os Gabinetes dos Secretários de Estado para a Cidadania e Igualdade e da Educação.
Esta  Estratégia  estabelece  como  princípios  a  conceção  não  abstrata  de  cidadania, a identificação de domínios essenciais na escolaridade obrigatória e, por fim, a identificação de competências  essenciais  de  formação  cidadã,  partindo  sempre  do  pressuposto  de  que  a cidadania não se aprende por transmissão de conhecimento, mas sim por processos vivenciais e de experimentação.
Os  grandes  temas,  convocados  na  nossa  existência  cidadã,  apesar  de  distribuídos  por três grupos, são intercomunicantes e pressupõem sempre a visão holística da pessoa.
O grande desafio colocado agora pela Estratégia de Educação para a Cidadania é que ela se  assume  como  Nacional,  para  todas  as  crianças  e  jovens,  tendo  como  horizonte  a  sua apropriação  na  cultura  de  cada  escola,  em  articulação  com  trabalho  de  parceria  com entidades da comunidade. 
Cada  escola  define  prioridades  para  desenvolver  práticas  pedagógicas  que  gerem oportunidades de os/as alunos/as se envolveram em experiências reais de participação e de vivência  da  cidadania,  incluindo  em  processos  de  tomada  de  decisão  em  assuntos  que  lhes dizem  respeito.  Este  trabalho  ganha  significado  nas  parcerias  com  as  famílias  e  com  a comunidade,  unindo  esforços  na  procura  de  soluções  para  problemas  e  desafios  comuns  no desenvolvimento  de  projetos  e  outras  iniciativas  que  tenham  por  base  a  valorização  das 
especificidades  e  realidades  locais  e,  simultaneamente,  capazes  de  um  olhar  atento  e interventivo sobre o mundo. 
Caminhar no sentido de garantir uma educação inclusiva e de qualidade para todos/as, apela, cada vez mais, à 
complementaridade entre a ação da escola e de entidades parceiras (incluindo  de  contextos  de  educação  não  formal),  para  um  verdadeiro  sentido  de  escola comunidade de cidadania.
Desta  forma,  autonomia,  parceria  e  comunidade  constituem  vetores  chave  para que  a ENEC  seja  bem sucedida  no  seu  desígnio  de  formar  cidadãs/ãos  capazes  de  compreender  o 
mundo e de agir para que este seja mais justo, inclusivo, pacífico e sustentável.
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