A 15 de agosto de 1498 em Lisboa,
no ano em que os navegadores portugueses atingiam a Índia, surgia a primeira
misericórdia portuguesa em resultado da especial intervenção da Rainha D. Leonor, e com o total apoio
do Rei D. Manuel I.
O desenvolvimento da
expansão marítima, da atividade portuária e comercial favorecia o afluxo de
gente aos grandes centros urbanos, como era o caso de Lisboa. Gente que vinha à
procura de trabalho ou de enriquecimento, numa busca muitas vezes sem frutos. As
condições de vida degradavam-se. As ruas transformavam-se em antros de
promiscuidade e doença, aglomerando-se pedintes e enjeitados. Também os
naufrágios e as batalhas originavam grande número de viúvas e órfãos, e a
situação dos encarcerados nas prisões do Reino era aflitiva.
Neste contexto difícil,
D. Leonor, rainha viúva de D. João II, resolve instituir uma Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da
Misericórdia, na Sé de Lisboa (Capela de Nossa Senhora da Piedade ou da
Terra Solta), onde passou a ter sede. Ao fim de quase um século de navegações
oceânicas, surgia, desta forma, uma nova confraria orientada por princípios
estabelecidos no Compromisso (estatuto
ou regulamento) da Misericórdia.
O Compromisso originário
da Misericórdia de Lisboa foi aprovado pelo Rei D. Manuel I e confirmado pelo Papa Alexandre VI.O documento
provavelmente perdeu-se com o terramoto de 1755. Dele foram tiradas diversas
cópias e fez-se uma edição impressa, em 1516, que veio permitir a divulgação
mais rápida do texto, facilitando a criação de outras misericórdias por todo o
Reino e nos territórios de Além-Mar.
Inicialmente constituída
por cem irmãos, a Irmandade atuava junto dos pobres presos, doentes. E apoiava os chamados
"envergonhados", pessoas decaídas na pobreza, por desgraça. Socorria
todos os necessitados, dando pousada, roupas, alimentos, medicamentos ou
mezinhas. Promovia também uma importante intervenção a nível religioso, ao estar presente nas orações e na
celebração de missas e procissões, nas cerimónias dos enterros, no
acompanhamento de condenados à morte ou na promoção da penitência. Os Irmãos
anunciavam, assim, o Evangelho com palavras, mas também com obras concretas,
testemunhadas através de atitudes cristãs.
O rápido crescimento do
prestígio da Misericórdia de Lisboa trouxe-lhe um maior número de
responsabilidades, nomeadamente o
apoio às órfãs e a administração do Hospital Real de
Todos-os-Santos, com a incumbência da proteção das crianças enjeitadas.
A eficaz ação da Misericórdia de Lisboa ficou a
dever-se não apenas ao empenhamento e participação generosa dos membros da
Irmandade, mas também ao apoio e proteção da Coroa, bem como a benemerências de
diversos particulares. É neste quadro que se compreende a concessão de
múltiplos privilégios, bem como a dotação de imponentes instalações, como a
nova sede da Misericórdia de Lisboa, mandada edificar por D.
Manuel I e concluída em 1534.
Fontes: SCML - Wikipedia (imagens)