Eça árvore genealógica não explica tudo
Tem nome de conquistador e conquista mesmo. Com apenas
24 anos, Afonso Reis Cabral arrecadou o Prémio Leya, com o romance "O
Meu Irmão". É verdade que é trineto de Eça de Queiroz, mas a
genética, por si só, não dita as regras do jogo. Será que o autor de "Os
Maias" sabia traduzir grego antigo? É que o trineto sabe.
Em 1990, Lisboa viu-o nascer. Depois disso, o Porto
viu-o crescer. Até ao 9º ano, Afonso Reis Cabral frequentou o Colégio
dos Cedros. Do 10º ao 12º, foi aluno na Escola Secundária Rodrigues de
Freitas. Nestes três anos letivos, a professora Alexandra Azevedo
introduziu-o aos Estudos Clássicos. Foram dois anos a aprender Latim e
um a aprender Grego. Mas, pelos vistos, em 2008, Afonso não se viu assim
tão grego no European Student Competition in Ancient Greek Language and
Literature. Em 3552 concorrentes, era o único português e ficou na
oitava posição.
Mas recuemos um pouco - até aos 15 anos de Afonso. Bom,
com 15 anos era altura mais do que certa para andar em namoricos ou a
colecionar cromos em cadernetas. Quem diz isso, diz publicar um livro de
poesia. Afonso carregou as nuvens de poemas e depois choveu o
resultado: "Condensação". Apesar de chovido, este livro,
publicado pela Corpos Editora, não foi caído do céu. Afonso entregou-se à
escrita durante cinco anos (dos 10 aos 15).
Invicto e convicto, Afonso Reis Cabral deixou o Porto
para regressar ao berço. Licenciou-se e amestrou-se na Universidade Nova
de Lisboa, primeiro em Estudos Portugueses e Lusófonos e depois em
Estudos Portugueses.
"Fernando Pessoa e Nietzsche: O Pensamento da
Pluralidade", "O teatro da Vacuidade ou a Impossibilidade de Ser Eu:
Estudos e Ensaios Pessoanos", "Teoria Geral e Previsional dos Ciclos
Económicos e Galileu na Prisão: e Outros Mitos Sobre a Ciência". O que é
que estas obras têm comum? Foram todas revistas por Afonso. Mas não são
as únicas. Aliás, o jovem português já se deu ao luxo de 'corrigir' a
nonagenária Agustina Bessa-Luís. Foi em 2012, quando fez a revisão de
"Cividade". Afonso já foi revisor em várias editoras e trabalha atualmente na Alêtheia.
Uma inspiração
Os rascunhos de "O Meu Irmão", obra que mereceu o galardão Leya, já remontam pelo menos a 2006. Na altura, Afonso Reis Cabral publicava um texto onde manifestava a sua indignação para com a prática do aborto. O seu irmão Martim nasceu um ano depois de Afonso. Antes ainda de conhecer a luz, Martim foi diagnosticado com Síndrome de Down. Neste texto, Afonso perguntava: "Com que direito é que a lei diz que se podem matar bebés deficientes, ainda não nascidos, até aos seis meses de gestação? E se tivessem tocado a campainha ao meu irmão Martim?".
Os rascunhos de "O Meu Irmão", obra que mereceu o galardão Leya, já remontam pelo menos a 2006. Na altura, Afonso Reis Cabral publicava um texto onde manifestava a sua indignação para com a prática do aborto. O seu irmão Martim nasceu um ano depois de Afonso. Antes ainda de conhecer a luz, Martim foi diagnosticado com Síndrome de Down. Neste texto, Afonso perguntava: "Com que direito é que a lei diz que se podem matar bebés deficientes, ainda não nascidos, até aos seis meses de gestação? E se tivessem tocado a campainha ao meu irmão Martim?".
No relato pormenorizado sobre os comportamentos -
afetados pela condição - do seu irmão, Afonso escreveu as seguintes
palavras: "Umas vezes, quando volta do colégio, vem todo irritado,
outras falador, outras macambúzio, outras indiferente, outras
gracejando, outras saltitando. Vem sempre feliz. Tem uma rotina muito
certa, o meu irmão Martim. Colégio, pão, televisão, banho, jantar, cama.
No meio disto tudo, decide chatear-me um pouco, mas enfim... E depois,
quando se deita, antes mesmo de fechar os olhos e de cair nos braços de
Morfeu, diz, abafado pelos lençóis: 'Bo noite, mano'".
Oito anos depois, a afeição de Afonso Reis Cabral ao irmão é premiada com 100 mil euros. Talento, trabalho e muito humanismo.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/afonso-reis-cabral-eca-arvore-genealogica-nao-explica-tudo=f894305#ixzz3GXg1kruT