novembro 12, 2013

Poemas em homenagem a Manuel António Pina....

"Amor como em casa" Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que não é nada comigo. Distraído percorro o caminho familiar da saudade, pequeninas coisas me prendem, uma tarde num café, um livro. Devagar te amo e às vezes depressa, meu amor, e às vezes faço coisas que não devo, regresso devagar a tua casa, compro um livro, entro no amor como em casa.//// "A Poesia Vai" A poesia vai acabar, os poetas vão ser colocados em lugares mais úteis. Por exemplo, observadores de pássaros (enquanto os pássaros não acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao entrar numa repartição pública. Um senhor míope atendia devagar ao balcão; eu perguntei: "Que fez algum poeta por este senhor?" E a pergunta afligiu-me tanto por dentro e por fora da cabeça que tive que voltar a ler toda a poesia desde o princípio do mundo. Uma pergunta numa cabeça. - Como uma coroa de espinhos: estão todos a ver onde o autor quer chegar?//// "Calo-me" Calo-me quando escrevo assim as palavras falam mais alto e mais baixo. Nada no poema é impossível e tudo é possível Mas não arranjo maneira de entrar no poema e de sair de mim e por isso a minha voz é profunda e rouca e por isso me calo (e como me calarei?) No entanto ninguém é tão falador como eu Nem há palavras que não cheguem para não dizer nada. E vós também: não me faleis de nada ou falai-me. Porque não sabeis o que dizeis.////