António Ramos Rosa
 O poema:
 Um poema é sempre escrito numa língua estrangeira
 Um poema é sempre escrito numa língua estrangeira
 com os contornos duros das consoantes
 com a clara música das vogais
 Por isso devemos lê-lo ao nível dos seus sons
 e apreendê-lo para além do seu sentido
 como se ele fosse um fluente felino verde ou com a cor do fogo
 O que de vislumbre em vislumbre iremos compreendendo
 será a ágil indolência de sucessivas aberturas
 em que veremos as labaredas de um outro sentido
 tão selvagem e tão preciosamente puro que anulará o sentido das palavras
 É assim que lemos não as palavras já formadas
 mas o seu nascimento vibrante que nas sílabas circula
 ao nível físico do seu fluir oceânico 
