“com a língua portuguesa realizámos oito séculos de uma bela literatura, deixando nela a memória do que foi fundamental para a modernidade europeia. O orgulho não é um exclusivo dos grandes países porque ele não tem que ver com a extensão de um território mas com a extensão da alma que o preencheu. A alma do meu país teve o tamanho do mundo… Uma língua é o lugar donde se vê o mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá a floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação. Assim o apelo que vinha dele, foi o apelo que ia de nós…”
Vergílio Ferreira nasceu em Melo, uma pequena aldeia do concelho de Gouveia, no dia 28 de Janeiro de 1916.
Frequentou o Seminário do Fundão, que retratou no romance Manhã Submersa, e que Lauro António adaptou para o cinema, convencendo Vergílio Ferreira a participar no filme, no papel de Reitor do Seminário; e a Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Filologia Clássica, e fazendo o estágio para professor no Liceu D. João III, atual Escola Secundária José Falcão.
Passou por Bragança, Évora e Faro, até ao Liceu Camões, em Lisboa, onde coincidiu com o aluno António Lobo Antunes que o descreve numa crónica (Retrato do Artista Quando Jovem) como “um professor de ruga atormentada na testa como se os rins da alma lhe doessem que atravessava o pátio do recreio torcido por incómodos metafísicos. Um colega mais instruído revelou-me que o professor se chamava Vergílio Ferreira e publicava livros”.
As cidades de Évora e Coimbra fazem parte do imaginário literário de Vergílio Ferreira, mas também a Serra da Estrela e a sua aldeia de Melo, que servem de cenário a densos e profundos textos do autor de Pensar e Conta Corrente, notas de um diário que vai publicando ao longo de duas décadas (1980-1994 ).
Aparição, Alegria Breve e Para Sempre são apenas três das obras que deviam estar presentes no ensino oficial da Literatura Portuguesa