Faz
 hoje 436 anos que Portugal sofreu uma das mais importantes derrotas da 
sua história enquanto nação. A Batalha de Alcácer-Quibir constituiu não 
apenas uma desastrosa derrota militar, mas um dramático ponto de viragem
 na história do país que marcou a nossa história (e nosso percurso) até 
aos dias de hoje. 
 A 4 de Agosto de 1578, perto de Al-Kasr 
al-Kebir (onde hoje existe um povoado denominado Suaken), com o exército
 português esgotado pela fome, pelo cansaço e pelo calor decorreu a 
trágica batalha que conhecemos como “Batalha de Alcacer-Quibir” e que os
 marroquinos conhecem como a “Batalha dos 3 Reis”, em alusão ao 
desaparecimento de 3 soberanos (além de D. Sebastião, desapareceram os 2
 “monarcas” (o Sultão Mulay Mohamed, aliado do monarca português e o seu
 tio Mulei Moluco). 
 A batalha (que começou a ser preparada 10 
anos antes) foi o culminar de um longo processo político e de uma errada
 estratégia de expansão, que revela a desastrosa imaturidade e 
impreparação de um Rei (D. Sebastião herdou a coroa aos 3 anos, assumiu o
 cargo aos 14 e tinha 24 na altura da batalha) ansioso por ficar na 
história e cuja educação foi marcada por um excessivo fervor religioso 
(que terá igualmente contribuído para tão imponderada decisão). 
 O
 exército marroquino era largamente mais numeroso que o português, mas, 
no “teatro de operações” as decisões do monarca português foram 
desastrosamente erradas, contra a opinião dos seus capitães, conduzindo o
 exército que liderava a uma calamitosa derrota. 
 Esta derrota teve consequências desastrosa para Portugal.
 Grande parte da elite portuguesa (nobres e militares, para além de 
bispos e arcebispos) morreu ou foi feita prisioneira. Para pagar os 
elevados resgates exigidos pelos marroquinos, o país endividou-se e 
ficou com as suas finanças depauperadas. 
 O desaparecimento de D.
 Sebastião deixou como sucessor o seu tio-avô, o Cardeal D. Henrique que
 viria a falecer 2 anos depois sem descendência, abrindo assim uma grave
 crise dinástica. 
 Filipe II de Espanha acabaria por subir ao 
trono em 1580, “sequestrando” ao povo português a sua independência por 
mais 60 anos. 
 Para os marroquinos, “A Batalha dos 3 Reis” é um 
dos momentos mais gloriosos da sua história e marcou de forma decisiva a
 afirmação da sua nacionalidade e da sua unidade territorial. 
 
Para Portugal, Alcácer-Quibir ficará na história como o maior desastre 
militar da nossa história e pelo nascimento do mito do Sebastianismo. 
 “(…) o Sebastianismo traduz a nostalgia de uma idade de ouro que 
passara e o sentimento de humilhação nacional de um povo ocupado pelo 
estrangeiro, bem como a espera messiânica duma comunidade incapaz de 
resolver os seus destinos.”  
 É este sentimento, esta 
incapacidade que ainda hoje marca este povo triste e fatalista, à espera
 de alguém que o virá salvar num dia de nevoeiro.
 Luís Vaz de 
Camões escreveu, numa carta a D. Francisco de Almeida, referindo-se ao 
desastre de Alcácer-Quibir, à ruína financeira da Coroa portuguesa e à 
independência nacional ameaçada: "Enfim acabarei a vida e verão todos 
que fui tão afeiçoado à minha Pátria que não só me contentei de morrer 
nela, mas com ela".