Ainda que ler seja, mais do que ficar enleado pelas palavras..., assim o
refere Eduardo Prado Coelho na sua definição de leitura:
«Ler
é um infinitivo pessoal como morrer ou amar: é entrar num espaço onde só a
releitura é leitura. Perto de um tempo outro, destroçados os eixos da
cronologia. Igual a uma boca nocturna que nos prenda. Não é apenas alinhar os
signos propostos no fio mais saliente do discurso. Nem
basta que fiquemos enleados, enlodados,
no
laço, lago, que as palavras, muitas, apertaram.
Caminhamos para uma leitura em que as mesmas palavras, lidas, abolidas, delidas,
se erguem, no seu jogo de incidências, marcas, incisões, para fazerem de nós,
aparentes leitores, um certo limiar, uma constelação de traços
esboçados».
Eduardo
Prado Coelho, «Quando depois do sol não vem mais nada», posfácio à obra de David
Mourão-Ferreira Os Amantes e Outros Contos, Lisboa,
Presença, 5ª ed., 1992, pp. 117, 118.