outubro 14, 2015
Viva a premiada HÉLIA CORREIA
HÉLIA CORREIA, in QUATRO SONETOS GREGOS (Jornal de Letras, 24/6/2015)
ERIDANO
Quando, alta noite, à hora clandestina
Em que as ruas de Atenas ficam sós,
Algum passante sobre o chão se inclina,
Ouve cantar a misteriosa voz,
A voz de um rio que cumpre a sua sina
Que já banhou Atenas e que, após
Tê-lo afundado o tempo em lodo e ruína,
Circula ainda e já não acha a foz.
Passa entre os mortos. Canta no terror
Das coisas subterrâneas e sem cor
Sua prisão anónima e escondida.
Como este rio que passa por Atenas,
Também eu canto à noite. E canto apenas
O teu amor obscuro e sem saída.