Geração Z: os miúdos que “fazem acontecer e que andam com o mundo no bolso”
Não sabem o que é viver sem internet ou telemóvel. Nasceram entre 1995 e
2012. Esta é a geração Z que, apesar de ainda estar em formação, começa
agora a ser estudada. Sucedem aos millennials, aquela que diziam ser a geração mais preparada de sempre. E os Z? Como são? Em Portugal, são mais de dois milhões
Quando
os primeiros jovens da Geração Z estavam a completar um ano de vida,
apareceu o Google. Aos seis, surgiu a Wikipédia. Aos nove, chegou o
Facebook. Se olharmos para os novos, que nasceram em 2012, estes nunca
conheceram a vida sem Twitter, Instagram ou Netflix. Em Portugal,
2,566,327 jovens fazem parte da geração que sucede os millennials.
“Acho
que a Geração Z se caracteriza e define por andarem literalmente com a
internet no bolso. Atualmente toda a gente tem, mas eles cresceram com
isso. Cresceram com o mundo no bolso. Portanto, isso molda a forma como
veem a vida, como percecionam e agem em relação ao que acontece”,
defende Madalena Lupi, analista e diretora de estudos qualitativos da
Netsonda. “Esta geração tem o hábito de não esperar muito tempo para
tirar uma dúvida. Quando têm, pega no telemóvel e pesquisa”,
exemplifica.
Atualmente, os Z têm entre cinco e 22 anos. Cerca de
87% destas crianças e jovens ligam-se diariamente para utilizar as
redes sociais, enviar e receber emails, comunicar em tempo real e jogar.
São
influênciados pelo acesso fácil que têm à informação e pela necessidade
de ter respostas no imediato. Já não dependem de alguém mais velho para
aprender algo de novo. Se querem saber, procuram. “Existem vídeos no
youTube de coisas tão banais como ensinar a atar sapatos e de coisas
mais complexas como fazer um explosivo. Tudo está disponível na
internet, com mais ou menos pormenor. É uma geração que quase se
autoeduca”, diz Madalena Lupi ao Expresso.
É certo que os millennials
também cresceram num ambiente em que a tecnologia estava muito
presente, mas, ao contrário da Geração Z, lembram-se dos tempos em que a
internet não era tão acessível e em que tinham de esperar pelo dia
seguinte para contar aos amigos da escola as novidades.
Mas
Madalena Lupi alerta: “Não se pode confundir o digital com o não gostar
do lado pessoal”. Os Z privilegiam o contacto humano, uma vez que já
nasceram rodeados de meios tecnológicos e variadíssimas formas de
comunicação, conseguiram conjugar e organizar tudo na sua vida sem
prescindir de nada.
Estas conclusões fazem parte da análise
“Nascer em Portugal já não é o que era: fatos e tendências”, que
resultam da compilação de dados da Pordata, Instituto Nacional de
Estatística, Fundação Manuel dos Santos, entre outros estudos, e que
esta quinta-feira são apresentadas no 8º Seminário de Marketing Kids
& Teens: Empowering the New Generation, em Lisboa.
Fazem acontecer e não são do contra Se os millennials
acreditavam que o mundo estava cheio de possibilidades para conquistar e
de sonhos para realizar, os Z são muito mais realistas e práticos. A
Geração Z cresceu num mundo em crise e em constante ameaça. Em suma, têm
os pés mais assentes no chão e parecem utilizar todos os meios ao seu
dispor para atingir objetivos.
“Habituaram-se a fazer coisas por
iniciativa própria. É uma geração em que existem expectativas de que
seja muito empreendedora, ou melhor, muito fazedora. É uma geração que
faz acontecer. Um jovem que gostava de ir para o Nepal ajudar as vítimas
do terramoto, faz uma página no Facebook e uma ação de crowdfunding.
Num instante recolhe dinheiro, vai para o Nepal e partilha as imagens
daquilo que fez. Há muito este espírito de fazer acontecer”, refere a
analista.
A Geração Z, ao contrário do que durante muito tempo
significou ser jovem, não se define pela luta contra o estilo de vida ou
os valores das gerações anteriores. Aliás, chegam a partilhar os mesmos
gostos que os pais: vão aos mesmos concertos e usam roupas das mesmas
lojas. Não são contestatários.
“Vivem numa sociedade em que os
direitos das mulheres já são adquiridos, independentemente de já serem
ou não cumpridos, o casamento homossexual é aceite pela lei e pela
sociedade… O que há mais para reivindicar?”, questiona Madalena Lupi.
“Há muito ainda para fazer, até porque muitas destas coisas são aceites
na teoria mas não estão feitas na prática”, acrescenta.
A primeira geração que vai trabalhar com os avós
Segundo
a análise apresentada esta quinta-feira, os Z estão também muito mais
focados numa alimentação saudável e veem no açúcar um “veneno que deve
ser evitado a todos o custo”. Nas festas de aniversário das crianças,
conta Madalena Lupi, os rebuçados e chocolates foram substituídos pela
fruta e os palitos de cenoura.
“Estão muito centrados na comida até a nível gourmet, com os masterchefes e a proliferação dos canais de culinária. Comer fast food já não significa apenas hambúrgueres e pizas. Há o sushi, os tacos…”, comenta a responsável pela análise.
São
também uma “geração global”, que ao receber informação do mundo inteiro
aceita muito facilmente a diversidade. Quando as pessoas são todas
iguais ou pensam da mesma maneira, a geração Z estranha.
As
crianças e jovens dos dias de hoje serão as primeiras a trabalhar com os
avós, devido ao envelhecimento da população e ao retardar da idade da
reforma. Viverão em meios familiares mais pequenos e com menos irmãos
biológicos.
“Ainda é uma geração em formação, porque se olharmos
para quem nasceu depois de 1995, ainda são quase acabados de nascer.
Ainda muito pouco se sabe sobre a Geração Z”.