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agosto 17, 2017

16 de Agosto de 1867:Nasce o poeta português António Nobre, autor de "Só" e "Despedidas"

A infância e a adolescência de António Nobre foram passadas entre Leça da Palmeira, onde o pai, antigo emigrado no Brasil, possuía uma quinta, e a Foz do Douro. Tendo estudado em colégios do Porto, frequentou os principais centros da boémia portuense, convivendo com figuras literárias como Raul Brandão e Júlio Brandão e publicando criação poética. Frequentou posteriormente a Faculdade de Direito de Coimbra, onde, com Alberto de Oliveira, fundou a revista Boémia Nova, cuja polémica com a publicação de Insubmissos, de Eugénio de Castro, constituiu um marco na emergência do Simbolismo e do Decadentismo em Portugal. Foi em Coimbra que, habitando a fortificação medieval que ficaria conhecida como "Torre de Anto", se acentuou o culto por uma postura romântica e egocêntrica, e que elaborou grande número das composições que viriam a integrar a sua principal obra publicada em vida. Em Paris, desde 1890, forma-se em Direito na Sorbonne e, conquanto à margem da dinâmica literária francesa que, por essa altura, consagra o Simbolismo, publica, em 1892, obra onde a voz do lusíada exilado reinventa, entre nostálgico e auto-irónico, uma existência que, nutrida nas tradições de um Portugal puro e preservado, o votou à solidão e ao sofrimento. Não chegando a ocupar o lugar de cônsul para que concorrera em 1893, os últimos anos de vida de António Nobre serão marcados por deslocações frequentes entre os lugares da sua infância e juventude e lugares de repouso, como a Suíça e a Madeira. Uma leitura literal de um biografismo assumido com emotividade e a evocação de um "Portugal da minha infância", vislumbrado em paisagens rurais e em textos plasmados sobre formas populares, permitiu que a publicação de  surgisse como um modelo a um tempo de uma estética neorromântica e neogarrettista que, pelo menos desde o início dos anos 90, fora elaborando as suas propostas teóricas. Mas, na verdade, o mais original do volume passa por uma forma antideclamatória que, inserindo-se num dolorismo e confessionalismo lírico, frequentemente de inspiração autobiográfica, busca a impressão de extrema simplicidade, delindo na sua elaboração a cultura literária e o rigor construtivo que lhe subjazem. É neste sentido que António Nobre se insere numa poesia portuguesa pré-modernista, ao colocar em questão uma língua poética fortemente convencional e normativa. Segundo Gastão Cruz, "enquanto Cesário revoluciona fundamentalmente o nível linguístico, através da renovação vocabular, a revolução de Nobre, não deixando de situar-se igualmente num plano semântico, e por vezes com uma liberdade de associações e uma violência que encontram o que encontramos em Cesário [...], abala, pela primeira vez, os alicerces, e toda a construção, do edifício romântico-parnasiano." (CF. CRUZ, Gastão - A Poesia Portuguesa Hoje, 2.ª ed. aum., Lisboa, Relógio d'Água, Lisboa, 1999, pp. 20-21).

No ano de 2000 comemorou-se o centenário da sua morte, através de publicações que relembram a sua vida pessoal e poética, entre outros eventos.
António Nobre

A Poezia do Outomno

Noitinha. O sol, qual brigue em chammas, morre 
Nos longes d'agoa... Ó tardes de novena! 
Tardes de sonho em que a poezia escorre 
E os bardos, a sonhar, molham a penna! 

Ao longe, os rios de agoas prateadas 
Por entre os verdes cannaviaes, esguios, 
São como estradas liquidas, e as estradas 
Ao luar, parecem verdadeiros rios! 

Os choupos nus, tremendo, arripiadinhos, 
O chale pedem a quem vae passando... 
E nos seus leitos nupciaes, os ninhos, 
As lavandiscas noivam piando, piando! 

O orvalho cae do céu, como um unguento. 
Abrem as boccas, aparando-o, os goivos... 
E a larangeira, aos repellões do vento, 
Deixa cair por terra a flor dos noivos. 

E o orvalho cae... E, á falta d'agoa, rega 
O val sem fruto, a terra arida e nua! 
E o Padre-Oceano, lá de longe, prega 
O seu Sermão de Lagrymas, á Lua! 

Tardes de outomno! ó tardes de novena! 
Outubro! Mez de Maio, na lareira! 
Tardes... 
    Lá vem a Lua, gratiae plena
Do convento dos céus, a eterna freira!
António Nobre, in 'Só'