Maria Helena Rocha Pereira
Nasceu em casa, num tempo que já não se respira. Um tempo em que as meninas tinham preceptoras que iam a casa, diariamente, dar a lição. A casa era um palacete, no meio de um jardim grande e bonito, no Porto. Quando aos 18 anos se mudou para Coimbra, sentiu falta do jardim. À entrada da porta, houve sempre «um jardim de vasos», que era seu.
A casa era recatada, tinhas as paredes revestidas de livros, algumas prateleiras abrigavam uma segunda fila. Os Livros, o Saber, que eram a sua vida.Maria Helena da Rocha Pereira morreu hoje e Coimbra está mais triste. Foi a primeira professora catedrática da secular Universidade de Coimbra. A primeira em 666 anos. (A primeira a prestar provas. Carolina Michaelis tinha sido convidada.)
Viveu sempre com os antigos. Abraçou o estudo dos gregos e latinos como se abraça o sacerdócio. Não casou, não teve filhos. Teve quatro sobrinhos que adorava.
É por causa dessa dedicação exclusiva que podemos ler em português a «República» de Platão ou «As Bacantes» de Eurípides, por exemplo. Elaborou a «Hélade», antologia da cultura grega, porque os alunos provenientes dos mais diversos cursos nem sempre sabiam grego. Traduziu a «Medeia» ou a «Antígona» a pedido do grupo de teatro da universidade. Mas dizia que detestava traduzir. Gostava muito de estudar e ensinar e a isso votou a sua existência. Ensinou durante quarenta anos, é professora jubilada desde 1995. Deixou, então, de dar aulas, mas continuou a orientar mestrados e doutoramentos.
Tinha uns olhos muito azuis que frequentemente sorriam e se emocionavam.
Paz à sua alma!