“As mentiras são mais fascinantes do que a verdade”
Tinha 84 anos e deixou-nos esta sexta-feira. Falámos com ele não há muito, em abril de 2015. A entrevista era sobre livros, sobretudo o dele que estava para sair, e aconteceu num tempo em que esta crise de refugiados que nos entrou pelas notícias já existia mas sem o impacto destes dias - transformados pela imagem do naufrágio da humanidade simbolizado num menino morto numa praia. A entrevista era pois sobre livros, mas Umberto Eco falou sobre mais - incluindo este tema que o preocupava há muito, o da migração e dos refugiados. É uma reflexão dura: “A Europa irá mudar de cor. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue”. Mas também com fé no outros homens - nos que estão e nos que vêm: “A migração produz a cor da Europa”
Defende que o mundo de um livro aparece antes das palavras. Ao que poderíamos acrescentar: começa em casa. Basta entrar, ver o Castelo Sforzesco a dominar as janelas, deparar-se com volumes medievais abertos nas vitrinas, com a coleção de seixos, conchas e pedras que parecem de outra era, para não resistir a pensar que foi aqui, rodeado destes objetos, que Umberto Eco escreveu "O Nome da Rosa". A tal cenário não é alheia a biblioteca, omnipresente e organizada ao seu estrito gosto: aqui a Antiguidade, ali a Idade Média e o Renascimento, os séculos XVI e XVII, além a filosofia, a ciência, a imensa estante de livros seus com as respetivas traduções. No corredor da literatura, dos seus primórdios ao século XX a ordem é temporal; do século XX ao XXI, alfabética.