Estudo da OCDE reúne pela primeira vez indicadores sobre os primeiros anos da vida escolar e traz recomendações para mudar a escola
Pesquisas recentes mostram que os primeiros anos da vida escolar são responsáveis por formar os alicerces para o desenvolvimento de competências, do bem-estar e da aprendizagem. Até agora, o esforço de países tem sido direcionado à abertura de novas vagas na educação infantil, mas de acordo com o estudo “Starting Strong 2017″, recém-divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), é preciso dar um próximo passo a mais e incluir medidas que melhorem as condições de trabalho de professores, a equidade no acesso e o uso de metodologias inovadoras.
Os benefícios vão além da aprendizagem. Uma educação de qualidade nesta etapa de ensino, segundo a entidade, pode ser benéfico a ponto de aumentar a participação de mulheres no mercado de trabalho, fator que tem forte correlação com altas taxas de matrícula durante a educação infantil, particularmente para mães com filhos com menos de 3 anos. Em países com alta taxa de participação feminina no mercado de trabalho (acima de 70% das mulheres entre 15 e 64 anos), como Dinamarca, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Eslovênia, e Suíça, a proporção de crianças que frequentam um centro formal de educação infantil também é mais alta. Os dados também mostram que existe uma relação entre a taxa de matrícula para meninos com 3 anos, em 2005, e um menor número de casos de obesidade infantil quando eles alcançaram 11 anos, em 2014.
O estudo também reúne dados sobre a carreira do professor. Na educação infantil, as exigências de qualificação têm aumentado, entretanto, os salários continuam menores do que os de professores dos níveis superiores – na média, equivale a 74%. O documento ressalta que essa é só uma parte da equação para melhorar a educação infantil. “Para atrair os melhores candidatos à sala de aula, os países precisam oferecer pagamento adequado, o que é uma evidência que a profissão é valorizada pela sociedade, mas também proporcionar um ambiente em que esses profissionais têm autonomia e papel ativo no desenvolvimento escolar”, diz o texto.
Nos países que integram a organização, o investimento para esta etapa de ensino atinge em média 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto). O Brasil está perto desses números. Segundo dados de 2014 divulgados pelo MEC (Ministério da Educação), o investimento público direto foi de 0,7%. Mas o dinheiro não é sinal de qualidade.
Segundo o diretor da OCDE Andreas Schleicher, para que as crianças consigam ter uma boa transição para os primeiros anos do fundamental, é preciso que os sistemas tenham o aluno no centro, ofereçam formação e chances de colaboração para os profissionais e um currículo devidamente alinhado com objetivos de aprendizagem.
Diante deste cenário, o documento faz ainda algumas recomendações:
– Salários mais altos e melhores condições de trabalho poderiam atrair ou ajudar na retenção de profissionais mais jovens. Somente 25% dos professores que estão na educação infantil têm menos de 30 anos em países como Áustria, Coreia do Sul, Japão, Nova Zelândia, Turquia e Reino Unido.
– Educação infantil de qualidade traz mais benefícios a crianças de baixo nível socioeconômico, especialmente por oferecer a base para um aprendizado bem-sucedido ao longo da vida e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
– O engajamento familiar é fundamental: ajudar as crianças a aprenderem enquanto estão em casa e ter maior contato com a equipe escolar são fatores associados ao sucesso acadêmico no futuro e também ao desenvolvimento socioemocional.
– O investimento público é importante para a sustentabilidade e equidade. Sem ele, existe a possibilidade de falta de bons programas, desigualdade no acesso e a segregação de crianças dependendo de sua renda.
– Entender as dificuldades de uma criança para evitar lacunas de aprendizado ainda na educação infantil pode trazer benefícios no longo prazo.