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dezembro 09, 2016

Fernando Pessoa


Plano de Vida

Um plano geral para a vida deve implicar, antes de mais, alcançar-se qualquer forma de estabilidade financeira. Marquei como limite para essa coisa humilde a que chamo estabilidade financeira cerca de sessenta dólares—quarenta para o necessário, e vinte para as coisas supérfluas da vida. A forma de o alcançar é adicionar aos trinta e um dólares dos dois escritórios (P & FF) vinte e nove dólares de proveniência a determinar. Em rigor, para viver apenas, cinquenta dólares bastariam, pois, tomando trinta e cinco como base necessária, quinze já davam para o resto.

A coisa essencial que vem logo a seguir é residir numa casa com bastante espaço, espaço quanto a divisões e divisões com os requisitos necessários, para arrumar todos os meus papéis e livros na devida ordem; e tudo isto sem grande possibilidade de me mudar dentro de pouco tempo. Parece que o mais fácil seria alugar eu próprio uma casa — à base de, suponhamos, oito ou, quando muito, nove dólares — e viver lá à vontade, combinando que me levassem o jantar (e o pequeno-almoço) todos os dias, ou coisa parecida. Mas seria este sistema absolutamente conveniente?

Substituir, no tocante à ordem dos papéis, a minha caixa grande por caixas mais pequenas contendo os papéis por ordem de importância. Na caixa grande e na outra em A. S. ficariam só os jornais e revistas que guardo.
Alugada uma casa, qual o mobiliário? Não seria melhor combinar de novo as coisas com S? De modo a alcançar isto de que preciso, mudando-nos nós, se necessário, para tanto?

Seja como o Destino quiser.

Fernando Pessoa, in 'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'