Santa
D. Joana de Portugal, (também chamada Santa Joana Princesa embora
oficialmente apenas seja reconhecida pela Igreja Católica como Beata) (6
de Fevereiro de 1452 — 12 de Maio de 1490) foi uma princesa portuguesa
da Casa de Avis, filha do rei D. Afonso V e da sua primeira mulher, a
rainha D. Isabel.
Membro
da monarquia portuguesa , nasceu em Lisboa e tinha três anos quando a
sua mãe faleceu, tendo sido entregue, juntamente com seu irmão, futuro
D. João II, aos cuidados de D. Brites de Meneses. Recebeu uma educação
humanista com a sua tia D. Filipa de Lencastre. A princesa, para além de
contar com uma boa biblioteca, usufruiu da companhia de importantes
letrados. Enquanto o seu pai e irmão combatiam em Arzila, foi-lhe
confiada a regência do reino (1471). Quando regressaram, a princesa
pediu ao rei para professar num mosteiro da sua escolha e entrou no
mosteiro de Odivelas. Em 1472 D. Joana trocou o mosteiro de Odivelas
pelo mosteiro dominicano de Jesus em Aveiro,
após recusar veementemente várias propostas de casamento. Ainda assim,
ela foi obrigada várias vezes a deixar o convento e voltar à corte. Ela
recusou uma proposta de casamento de Carlos VIII de França, 18 anos mais
novo que ela. Em 1485, ela recebeu outra oferta, do recém-viúvo Ricardo
III de Inglaterra. No entanto, Ricardo morreu em combate, do qual Joana
supostamente teve um sonho profético. Joana nunca chegou a professar
votos de freira dominicana por ser princesa real e potencial herdeira do
trono. No entanto viveu a maior parte da sua vida no Convento de Jesus
de Aveiro, desde 1475 até à sua morte, seguindo em tudo a regra de vida e
estilo das monjas.Tomou
o hábito em 1475 sem professar votos solenes. O príncipe e o bispo D.
Garcia convenceram-na a desligar-se dos votos de clausura.
Iconograficamente surgem três coroas nas suas representações,
simbolizando as suas sucessivas recusas de casamento.
O
rei D. Afonso V proveu o mosteiro de muitos bens e em 1485 D. João II
doou o senhorio de Aveiro à infanta, que por sua vez promoveu o
alargamento dos bens pertencentes ao mosteiro. A princesa morreu em
Aveiro no dia 12 de Maio de 1490. Foi beatificada em 1693 e canonizada
em 1756.
Infanta D. Joana de Portugal, conhecida como Santa Joana Princesa
Chegada de D. Afonso V de Arzila, conversando com a filha - Manuel Ferreira e Sousa
O tempo na Idade Média e
a invenção do relógio
10 de maio de 2016
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As sociedades da Antiguidade e da Idade Média desconheciam a ideia de
tempo que temos hoje, isto é, o tempo unificado, padronizado, controlado
e medido em intervalos de horas, minutos e segundos perfeitamente
iguais em sua duração. A ausência da consciência de tempo era a regra
entre as pessoas comuns na idade média. Sequer as datas de nascimento
eram registradas e a maioria desconhecia o ano em que estava, uma vez
que isso dependia de cálculos feitos pela Igreja e que não era usado no
cotidiano.
O tempo da Idade Média é, em primeiro lugar, um tempo de Deus e da
terra, depois dos senhores e dos que estão sujeitos ao senhorio, depois –
sem que os tempos precedentes tenham deixado de ser presentes e
exigentes –um tempo das cidades e dos mercadores, e, finalmente, um
tempo do príncipe e do indivíduo. (LE GOFF, 2002.)
O tempo litúrgico
Assim como na Antiguidade, o tempo, na Idade Média, era determinado
pelos ritmos naturais e pela marcha do sol. A Igreja introduziu períodos
e datas que definiram o calendário cristão: a semana de sete dias em
que o domingo é o dia do Senhor. Dia de descanso marcado por uma
sociabilidade religiosa na qual homens e mulheres se encontram para
participar de ofícios religiosos.
Na Idade Média, o tempo era essencialmente o tempo circular da liturgia,
marcado pela vida de Cristo: Advento, Natal, Quaresma, Semana Santa
(com o Domingo de Ramos, Eucaristia, Paixão culminando na Páscoa, a
ressurreição), Domingo de Pentecostes etc.
Outras festas religiosas, em particular, as dos santos, também eram
marcadores temporais da sociedade cristã, entre eles: Candelária (2 de
fevereiro), Corpus Christi (segundo domingo após o Pentecoste), São Joao
(24 de junho), Todos os Santos (1º de novembro) e Dia dos Mortos (2 de
novembro).
O tempo litúrgico regulava também o tempo do corpo e da sexualidade
determinando os dias em que as relações sexuais estavam interditadas,
especialmente durante a Quaresma. O castigo podia cair até sobre a
descendência dos infratores: os leprosos eram considerados como
concebidos por pais que tiveram relações sexuais na Quaresma.
Havia ainda um tempo linear dominado pelo registro obsessivo de eventos
relacionados aos senhores (sucessões, dinastias, fundadores,
genealogias, combates) e também de fenômenos naturais, signos no Céu,
tremores de terra etc.
O controle do tempo pela Igreja na Idade Média
Os monges introduzem duas novidades para o controle do tempo cotidiano: o
toque dos sinos e as horas canônicas. Desde o século XII, um manual de
comportamento do bom cristão, o Elucidarium propõe a hora de despertar,
de trabalhar, de alimentar-se, de repousar.
A Igreja medieval herdou do calendário latino a denominação de cada
intervalo de tempo: prima (corresponde às 6h), terça (9h), sexta (12h) e
nona (15h). Acrescentou mais quatro intervalos: louvor (alvorecer),
véspera (pôr do sol) e completa (antes do repouso, quando a jornada está
“completa”) e matina (meia noite).
As horas canônicas eram anunciadas à comunidade pelo toque dos sinos. A
contagem de cada intervalo podia ser medida pela clepsidra (relógio de
água), ampulheta, vela marcada ou por orações ritmadas. Nos mosteiros,
monges vigilantes passavam a noite recitando ritmicamente o número exato
de salmos que lhes dessem a medida do tempo transcorrido. Ao término da
recitação, tocavam o sino. O controle do tempo foi uma das principais
atribuições da Igreja na Idade Média.
O advento do relógio mecânico
O primeiro relógio mecânico do mundo surgiu na China, em 725. Na Europa,
ele demorará ainda quinhentos anos para aparecer. Foi por volta do
século XIII, que surgiram os primeiros relógios mecânicos inaugurando a
marcação de um tempo novo, com horas teoricamente iguais.
Os historiadores acreditam que o estímulo para o desenvolvimento do
relógio mecânico tenha nascido pela exigência da disciplina nas tarefas
cotidianas nos mosteiros medievais. A pontualidade era uma virtude
rigorosamente prescrita e o atraso ao serviço divino ou a uma refeição
era punido. As demandas advindas do desenvolvimento urbano e mercantil
reforçaram a necessidade de marcar e regular o tempo.
Especialistas afirmam que os relógios mecânicos europeus são
descendentes da tecnologia do mecanismo de Antikythera.
A precisão dos relógios mecânicos era pequena; em razão do atrito dos
mecanismos, a defasagem acumulado era, geralmente, de pelo menos uma
hora por dia. O ponteiro de minutos, aliás, só foi introduzido em 1577,
pelo alemão Jost Burgi. Sem ele, pode-se supor a larga tolerância com
que se via o passar do tempo e a imprecisão com que era medido naquela
sociedade do “daqui a pouco”.
O triunfo do tempo, Jacopo di Sellaio.
“Triunfo do tempo”, óleo sobre tela de Jacopo di Sellaio, 1480-1490,
mostra Cronos, o deus do tempo segurando uma ampulheta e regulando o
mecanismo de um relógio que, doravante, marcará os limites de seu
domínio. Os cães representam o dia (branco) e a noite (preto) que se
devoram. Museu Bandini, Fiesole.
Os primeiros relógios não tinham nem mostradores nem ponteiros e
limitavam-se a marcar as horas canônicas: eram comparáveis aos sinos,
tanto que o termo inglês clock (relógio) é muito próximo do alemão
glocke e do francês cloche, que significam, justamente, sino.
Os relógios europeus mais antigos que se têm notícia foram desenvolvidos
na abadia de Saint Albans, Inglaterra, durante a década de 1330 e no
mosteiro de Pádua, Itália, entre 1348 e 1364. Mas eles não existem mais,
só restando descrições detalhadas de sua construção. O relógio da
Catedral de Salisbury, na Inglaterra, datado de 1386, é considerado o
relógio mecânico mais antigo da Europa em funcionamento.
Relógio de Salisbury, Inglaterra
Relógio da catedral de Salisbury, Inglaterra. Não tem mostrador nem
ponteiros, mas bate as horas.
Autômatos: figuras movidas pelos relógios
Os relógios geralmente movimentavam também os autômatos, tão apreciados
pelo público que acabaram sendo uma das maiores razões de seu sucesso,
mais até que a possibilidade de saber as horas.
Na Itália, o primeiro relógio com um autômato foi instalado em 1351, na
catedral de Orvieto e funciona até hoje. Trata-se do chamado Maurizio,
provável corruptela do antigo dito “ariologium de muriccio”, ou seja,
relógio do canteiro de trabalho, o primeiro relógio mecânico que
assinala as horas de trabalho – em princípio todas iguais – para a
construção do edifício sacro.
O autômato, fundido em 1348, indica ser, pelas roupas que usa, um
servente leigo da Obra do Domo. A pátina escura do metal manteve o nome,
através da associação maurizio/mourisco/moreno.
Com um martelo, o autômato bate as horas no sino maior e traz escrito em
seu cinto: “Da te a me, campana, fuoro i parti / tu per gridar et io
per fare i fati” (De ti para mim, sino, fizemos os pactos / tu para
gritares e eu para pôr em obra os atos).
No sino lê-se a resposta: “Se vuoi ch’attenga i pati, dammi piano /se no
io cassirò e darà invano” (Se queres que respeite os pactos, bate
devagar / pois baterás em vão se eu me quebrar).
Torre da catedral de Orvieto, Itália
Torre da catedral de Orvieto, Itália, com o autômato Maurizio.
Maurizio, catedral de Orvieto
Maurízio, autômato do relógio mecânico da Catedral de Orvieto,
Itália.
Relógios astronômicos
Muitas vezes os relógios eram também astronômicos, mostrando o movimento
do céu com as posições relativas do sol, as fases da lua, constelações
zodiacais e até mesmo grandes planetas. Marcar a passagem do tempo era
apenas uma função acessória do instrumento basicamente destinado a ser
uma representação mecânica do universo, uma espécie de planetário.
Relógios fabulosos foram construídos nos séculos XIV e XV, alguns deles
ainda em funcionamento, como se pode ver nos exemplos abaixo.
Relógio da catedral de Wells, Inglaterra
O mecanismo do relógio da catedral de Wells, Inglaterra, construído
entre 1380 e 1390, foi substituído no século XIX e levado para um museu,
onde ainda se mantém em funcionamento. O mostrador menor mostra a ideia
medieval do universo, onde a Terra está no centro e Sol se move em
torno dela levando 24 horas para ir completar a volta.
Gros Horloge, França
O mecanismo do Gros Horloge em Rouen, Normandia, França foi construído
em 1389. A fachada foi adicionado em 1529 depois de ter sido transferido
ao seu lugar atual. Ele mostra as fases da lua nos quatro cantos e, na
faixa móvel embaixo, os dias da semana representados por figuras
alegóricas. Todo o mecanismo foi eletrificado em 1920.
Relógio de Praga
O relógio astronômico de Praga, conhecido como “orloj Praga”, na
República Checa é um dos mais antigos ainda em funcionamento no local
original. O mostrador astronômico e o mecanismo do relógio foram feitos
por volta de 1410. A figura do esqueleto (no alto, à direita) simboliza a
Morte marcando as horas e o passar do tempo. Por volta de 1490 um
mostrador com o calendário foi adicionado e toda a estrutura recebeu uma
decoração gótica. No século XVII, novos acréscimos enriqueceram a peça:
um disco com a Caminhada dos Apóstolos e outras estátuas. Durante a
Segunda Guerra Mundial, o relógio foi quase destruído pelos bombardeios
nazistas. A população empenhou-se em salvar a maioria das peças e o
relógio foi aos poucos reconstruído até 1948.
Obrigado por compartilhar. Lembre-se de citar a fonte: http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/tempo-na-idade-media-invencao-do-relogio/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues
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