O conde D. Henrique era filho (4.º) de Henrique de Borgonha, bisneto de Roberto I de França, sobrinho-neto do abade S. Hugo de Cluny. A sua vida e carreira política são condicionadas por três fatores dominantes: o feudalismo, o espírito de cruzada e a reforma gregoriana. Enquanto senhor feudal, pretende uma maior autonomia e valoriza a sucessão masculina; como cruzado, sente-se atraído pelas zonas de maior perigo e daqui se compreende a sua vinda para a península; como gregoriano, contribui para a definitiva introdução da liturgia romana e da escrita carolíngia em Portugal.Casou pelos trinta anos com D. Teresa de Aragão, filha de D. Afonso VI e de Ximena Nunes. Antes do seu casamento ter-se-á distinguido, na fronteira sul da Península, no combate aos mouros (almorávidas). Em 18 de dezembro de 1095 era já senhor de Coimbra, no ano seguinte, em 24 de abril, era também senhor de Braga. Procurou, no início do seu governo, organizar o território firmando nele a sua autoridade, através da atribuição de forais (Guimarães e Constantim de Panoias). A 9 de dezembro de 1097, em Compostela, intitula-se "comes Portucalensis". Em termos jurídicos, a situação de D. Henrique seria a seguinte: de 1095 a 1097 D. Henrique e sua mulher teriam a tenência (governo) dos territórios do Porto, Coimbra e Santarém; a partir de 1097, participava já da soberania sobre o território que recebera de herança. No entanto, só após a morte de Afonso VI é que D. Henrique ousa agir como potência independente.Durante o período do seu governo, D. Henrique tomou parte ativa nas atividades do Império; assim, em 1100, travou batalha com os almorávidas em Malagón. No ano seguinte e até 1103 foi a Roma juntamente com S. Geraldo de Braga defender junto do Papa os direitos desta cidade. Em setembro de 1104 estabelece com D. Raimundo um Pacto Sucessório em que reconhece este último como único herdeiro de Afonso VI e se prometem mutuamente amizade e assistência. Como contrapartida deste acordo, Raimundo promete a D. Henrique Toledo, com parte do seu tesouro, ou a Galiza. Neste pacto não há qualquer referência a Portugal, não se podendo por ele pressupor a preparação da independência. Em 13 de setembro de 1107 morre Raimundo e no ano seguinte o infante D. Sancho que lhe deveria suceder. Após estes acontecimentos, D. Henrique vai junto da corte de D. Afonso VI, em Toledo, contudo, zanga-se com o sogro e este expulsa-o da sua corte. Depois disto, D. Henrique regressa a Portugal onde submete os mouros de Sintra e se desloca a Coimbra. Nesta cidade doa à diocese o Mosteiro de Lorvão usando o mesmo formulário de chancelaria que 15 anos antes fora usado pelo herdeiro do trono em ato semelhante. A partir desta altura começa a atuar como potência independente.D. Henrique tomou partido contrário a D. Urraca como herdeira de Afonso VI; em 1110, na batalha de Campo de la Espina, vence as tropas de D. Urraca; em novembro do mesmo ano dá-se a conferência de Monzón entre D. Henrique e D. Urraca; em novembro do mesmo ano D. Henrique cerca D. Afonso I em Peñafiel. Este cerco foi desfeito pela intervenção de D. Teresa que convence o marido a retirar o apoio a D. Urraca enquanto esta não definir claramente os termos da aliança. Em fevereiro ou março de 1111 D. Henrique cerca D. Urraca, que entretanto fizera as pazes com o rei de Aragão. Na primavera deste ano vivem-se dificuldades em Portugal agravadas pela ameaça almorávida sobre o Tejo. No inverno deste último ano D. Henrique domina territórios que dependem ou de D. Urraca ou de Afonso I, tais como Zamora, Astorga e Oca. Em 1112 fez-se a paz com D. Urraca que, por sua vez, também a fizera com o filho. D. Henrique faleceu, em Astorga, nos últimos dias de abril de 1112, tendo determinado que fosse sepultado na Sé Catedral de Braga.
Conde D. Henrique. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora,
2003-2014.
wikipedia
(imagens)
Afonso VI de Leão e Castela entrega o Condado Portucalense a D. Henrique em 1096
Henrique de Borgonha, Conde de Portucale e Teresa de Leão, em iluminura da Genealogia dos Reis de Portugal (1530-1534)