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março 14, 2016

Poema de EUGÉNIO DE ANDRADE

Foto de Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen.
EUGÉNIO DE ANDRADE, in BRANCO NO BRANCO (1984, Limiar, 5ª ed., 1993)
XXIV

O mar. O mar novamente à minha porta.
Vi-o pela primeira vez nos olhos
de minha mãe, onda após onda,
perfeito e calmo, depois,

contra falésias, já sem bridas.
Com ele nos braços, quanta,
quanta noite dormira,
ou ficara acordado ouvindo
seu coração de vidro bater no escuro,
até a estrela do pastor
atravessar a noite talhada a pique
sobre o meu peito.
Este mar, que de tão longe me chama,
que levou na ressaca, além dos meus navios?