abril 10, 2017

Maria Helena Rocha Pereira morreu hoje....Uma ilustre professora da Universidade de Coimbra

Maria Helena Rocha Pereira 

Nasceu em casa, num tempo que já não se respira. Um tempo em que as meninas tinham preceptoras que iam a casa, diariamente, dar a lição. A casa era um palacete, no meio de um jardim grande e bonito, no Porto. Quando aos 18 anos se mudou para Coimbra, sentiu falta do jardim. À entrada da porta, houve sempre «um jardim de vasos», que era seu.

A casa era recatada, tinhas as paredes revestidas de livros, algumas prateleiras abrigavam uma segunda fila. Os Livros, o Saber, que eram a sua vida.
Maria Helena da Rocha Pereira morreu hoje e Coimbra está mais triste. Foi a primeira professora catedrática da secular Universidade de Coimbra. A primeira em 666 anos. (A primeira a prestar provas. Carolina Michaelis tinha sido convidada.)
Viveu sempre com os antigos. Abraçou o estudo dos gregos e latinos como se abraça o sacerdócio. Não casou, não teve filhos. Teve quatro sobrinhos que adorava.
É por causa dessa dedicação exclusiva que podemos ler em português a «República» de Platão ou «As Bacantes» de Eurípides, por exemplo. Elaborou a «Hélade», antologia da cultura grega, porque os alunos provenientes dos mais diversos cursos nem sempre sabiam grego. Traduziu a «Medeia» ou a «Antígona» a pedido do grupo de teatro da universidade. Mas dizia que detestava traduzir. Gostava muito de estudar e ensinar e a isso votou a sua existência. Ensinou durante quarenta anos, é professora jubilada desde 1995. Deixou, então, de dar aulas, mas continuou a orientar mestrados e doutoramentos.
Tinha uns olhos muito azuis que frequentemente sorriam e se emocionavam.
Paz à sua alma!